19 de março de 2011

nove

Seis de março
9: 00
 Dani olhava a chuva que molhava a sua janela amarela naquela manhã triste:
- Dani?!
- Oi...
- Posso falar com você?
- Claro!
 David entrou e tentou achar um lugar pra sentar, mas decidiu falar em pé mesmo, sua mãos tremiam:
- Eu fui falar com ele.
- Ele quem?
- O Bob!
- Pra que? Já não basta isso? – Dani afastou a franja com os dedos e mostrou a pequena cicatriz sobre a sobrancelha. – Chega!
- Eu fui pedir desculpas.
- Quê?
- Foi isso.
- Por quê?
- Eu não sou tão mal assim, eu tenho sentimentos.
- Eu sei...
- Não você não sabe!
- Sobre o que?
- Sobre mim!
- Eu não to entendendo nada David.
- Eu tenho um segredo pra te contar.
27 de novembro
3: 15
- O Victor tá chegando vou pegar ele Ju, quer ir?
- Não. Vou ficar com a Alana.
- Ok.
- Nós precisamos conversar sobe uma coisa.
 Ju ficou procurando algo, desligou a TV, foi ao quarto dos pais, um lugar escuro, escondido á um bom tempo, os pais dela estavam morando na Itália, ela e Amanda, quase se mataram nesses últimos meses, mas a mãe delas chegaria antes do natal e só iria pra lá próximo ano, levando as duas pra morar. Amanda terminou com o namorado ao ir prá lá na primeira vez, desde então solteira ficou uma chata, frustrada.
 Ju se aproximou da cama, abriu o guarda roupa dos pais, foi na ultima gaveta, na ultima caixa de sapatos, pegou uma arma:
- Isso é perigoso cuidado Ju.
- Vai dar tudo certo Amanda.
 As duas se olharam, hora de pôr o plano em ação.
16 de abril
15: 43
 Victor começou a estudar muito pro vestibular de julho, ele passava cerca de sete horas estudando por dia fora as aulas pela manhã, todo dia saia umas nove horas da escola, às vezes mamãe dava carona pra ele, mas normalmente ele ficava até mais tarde. Eu decidi procurar ajuda na escolha da profissão, fui á um psicólogo, mas não adiantou muito, estava em duvida entre direito e arquitetura:
- Acho direito massa.
- Minha mãe fez.
- Bob... Não faça por isso.
- Eu gosto.
- Eu sempre quis medicina. Meu sono mesmo.
 Queria ter um sonho assim também, como as outras pessoas, Victor estava tão decidido, eu só despertei essa força nele, o resto ele consegui sozinho. Realmente ele estava se esforçando muito. Eu estava quase dormindo na sexta quando ele me chamou pela sua janela. Me pediu pra conversar, fomos na piscina e ele me disse o que ocorreu naquela tarde depois que eu sai da biblioteca, ele decidiu ir lanchar quando alguém o chamou:
- Victor!
 Era Jéssica, estava aparentemente deprimida e tristonha:
- Oi.
- Eu posso falar um minutinho com você?
- Claro!
- Não quis entrar na biblioteca, nem pra te atrapalhar e até porque nunca entrei ai.
- Pode falar.
- Eu vim pedir desculpas. Você foi o melhor namorado do mundo e eu fui uma vadia.
- Foi mesmo.
- Eu errei, eu sei.
- Hum...
- Você me abandonou, todo mundo via isso. Você nunca gostou de mim, eu nem sei por que a gente tava junto, eu fui humilhada também, eu nunca fui amada por você e agora você anda mais tempo com aquele novatinho gay do que comigo, isso não é legal, daqui a pouco vai tá todo mundo comentando.
- Você é muito ridícula mesmo.
- Victor!
- Chega Jéssica! Acabou!
- Victor pêra ai! Nós somos o casal da escola.
- Não somos mais nada.
- Você é bom demais pra se perder.
- Mas você conseguiu. Me perdeu.
- Péra ai Victor, me escuta.
- Eu tento, mas eu fico com mais nojo de você.
- Eu te amo.
- Não, você não ama.
- Amo sim.
- Não tem problema, eu nunca te amei também.
- Victor.
- Você acha que eu fiz certo? – me olhando.
- Não sei! Acho que sim...
- Eu fiquei triste, mas eu não senti nada sabe?! Nada! Aliás, eu nunca senti nada por ela, eu só estava me enganando... Ela disse que eu iria encontrar alguém muito bom pra mim.
- Claro que vai. – eu fiquei meio sem jeito.
- Eu disse que já havia encontrado...
19: 02
- Dois minutos atrasado.
- Oi Bob. - Pedro chegou-me entregando um vinho de presente.
- Brigado. Cadê a Sophie?
- Ela saiu pra jantar com um amigo dela!
- Hummmmm!
- Adoro.
- E vai ser só nós? Jantar romântico? – ri.
- Eu chamei uns amigos!
 Ju e Victor estavam vendo TV rindo de alguma bobagem que passava.
- Gente esse é o Pedro.
- Oi. – dois juntos.
- Vamos comer?
 Sentamos-nos na mesa e comemos a lasanha que mamãe havia deixado pro jantar, estava maravilhosa foi à mesma que Gean comeu lá na chácara, mas dessa vez estávamos menos tensos, e mais animados, o vinho era quase um álcool engarrafado:
- Vamos sair depois daqui? – perguntou Pedro.
- Pode ser! – respondeu Vi.
- Ótimo! – disse Ju piscando pra Pedro. – Não tem nada melhor mesmo.
- Não sei gente!
- Vamos Bob!
- Você nunca saiu! Pelo amor de Deus!
 Depois de muita discussão decidimos ir pra night, Ju foi se arrumar o que atrasou a todos. Saímos cerca de meia noite e meia, mas a cidade acabara de acordar. Luzes, pessoas, pareciam que naquele momento eu estava conhecendo uma nova Fortaleza, que nunca dormia e estava preparada pra muitas emoções naquela noite.
 Chegamos à boate e ainda tava fechada, mas já tinha uma galera no aquecimento, ficamos lá, talvez não fosse à melhor noite de nossas vidas, mas... Tudo começou quando Ju encontrou Ruan na festa, isso até seria bom se ele não tivesse ficando com uma menina:
- Ruan?
- Ju?
- Quem é essa? – perguntou Ju indignada.
- Não tá vendo que ele tá acompanhado não, biscate?! – disse a loira safada com Ruan.
- O que? Cê tá louca sua vagabundinha de quinta!
- Meninas!
 As duas começaram a brigar, pedi ajuda de Pedro que estava quase transando com uma bela morena, Victor que ficou o tempo todo comigo no bar nem se dispôs a terminar a confusão. Os seguranças chegaram segurando as duas loucas e nos levando pra fora da boate. Acabamos sendo expulsos da balada, que mico!
 Ficamos esperando um taxi na rua fria, a loira foi embora e Ruan ficou com a gente, Ju nem o olhava mais, de repente começou a chorar:
- O que você tava fazendo?
- Nada Ju.
- Eu vi Ruan.
- Só tava curtindo.
- Não gostei dela!
- Eu também não, mas não tenho escolha.
- Como assim?
- A menina que eu gosto nem me nota.
- Quem é?
- Não importa.
- Como você sabe?
- Ju você nunca acredito nas minhas cantadas.
- Você é meu melhor amigo.
- Não Ju. Eu não quero mais ser só seu amigo.
 Todos ficaram olhando e esperando alguma frase mais ninguém disse nada, o taxi chegou, Ju acabou com o silêncio enquanto entrava no carro:
- Eu sou uma burra mesmo.
- Eu te amo Julianne.
 Fomos pra casa.
17 de abril
10: 03
- Dá pra creditar nisso? Eu sou muito burra, Bob. Você devia ter feito algo!
- O que?
- Sei lá. Agora eu o perdi pra sempre.
 Ju havia esquecido a chave e decidiu dormir lá em casa assim como Pedro e Victor, todos dormiram no meu quarto, eu e Ju na cama, Pedro no colchão e Vi na rede. Eu acordei cedo pra urinar e Pedro já tinha ido embora, mamãe disse ele tinha ido pra casa, pois tinha treino de bike, Victor parecia estar morto, nem se mexia, estava sem blusa e isso era maravilhoso, que barriga perfeita.
- Você não o perdeu.
- Perdi sim, eu sei como é. Quando ele terminou com a ex ele passava horas falando dela comigo, ele a odeia, agora ele me odeia. Ele nem fala mais com ela.
- O que você tá planejando?
- Não sei. Um dia ele é meu melhor amigo e no mesmo dia ele tá trepando com uma prostituta loira e dizendo que me ama.
- Que tenso.
- Eu tô completamente louca.
 Um pouco depois que a Ju foi embora, Victor acordou e foi embora:
- Valeu Hael.
 Ele saiu me beijando na testa, eu passei uns 2 minutos tremendo depois disso.
18 de abril
13: 00
 Mamãe decidiu me levar pra comer fora no domingo, fomos há um restaurante self- service, sentamos num lugar afastado e perto das grandes janelas de vidro de frente pra avenida, foi bom passar um tempo com ela, era nosso primeiro passei juntos na nova cidade, mamãe continuava a mesma conselheira, mas um pouco mais fraca e aparentemente mais magra, a dieta era bem forte, seu prato havia mais coisas vivas que mortas, que aliás se restringiam há um pedaço de peixe. Então, do nada, decidi contar a verdade, ela ainda era minha melhor amiga, não podia esconder isso dela, Gean era um canalha e ela tinha o direito de saber:
- O que você acha que eu devo fazer?
- Querido... Como você se sentiu quando sobe de tudo?
- Foi horrivelmente como socarem meu estômago e esmagá-lo com as pedrinhas do quintal.
- É simples.
- Não entendei mãe...
- Você tem que imaginar que... Essa menina vai se casar com um cara que vai destruir a vida dela.
- Hurrun.
- Conte filho! Antes que seja tarde demais. Antes, que role o mesmo que rolou com você.
 Eu ainda não sabia o que fazer, ao voltarmos pra casa, acabei por descobrir:
- O Gean esteve aqui e deixou isso pra você. – disse o porteiro... Pedro com um ramalhete de flores brancas na mão.
13: 00
 Naquela noite o pai de Victor não havia dormido em casa, Vi estava desolado, Ju e Amanda foram dá uma ajuda moral e tentar arrumar o apartamento bagunçado e cheio de garrafas secas:
- Eu não preciso de ajuda.
- Olha a merda. – disse Amanda revoltada varrendo a casa escura.
- Você é muito cabeça dura. – Ju abrindo as janelas.
- Onde o velho se meteu?
- Você já ligou pros amigos dele?
- Ele tem isso? – ironicamente estragando o clima Amanda.
- Amanda! – Ju morta de vergonha.
- Já, ninguém sabe de nada.
- Onde ele costuma ir Vi?
- Qualquer barzinho com negras bem dotadas de bunda sambando.
- Amanda! – Ju.
- Mas é mesmo. Ele sempre vai pro bar ali, perto da 13.
 Todos entraram no carro de Amanda, que estava revoltada e estressada; pra variar; foram em cerca de sete bares até encontrarem o pai de Victor dormindo num banheiro sujo e cheio de baratas e provavelmente ratos. Levou ele pra casa, Victor deu um bom banho frio no pai bêbado, Amanda fez uma espécie de suco fortificante com frutas cítricas e deram antes dele cair em “coma” alcoólica. Pela manhã Victor e o pai tiveram uma discussão:
- Ou você para ou saio daqui. E você vai ficar assim, sozinho. Chega pai!
 Por fim, Mario, o pai de Victor decidiu freqüentar um terapeuta e os Alcoólicos Anônimos, não era tarde pra uma segunda chance, aliás, nunca é tarde pra tentar fazer a coisa certa, em poucos dias Amanda conseguiu um emprego pra Mario numa grande oficina de carros na cidade, seria um emprego pequeno, mas seria um bom re- começo. Ele estava pronto e eu também:
- Então o que você decidiu Hael?
- Eu vou a casa dele!
- Sério?
- Sério, não quero outra pessoa sofrendo com ele, como eu sofri.
- É a coisa certa Hael.
- Eu sei Victor, eu sei.


oito

Cinco de abril
7: 20
Não dormi bem naquela noite, até tentei esperar uma eventual chuva, mas o céu estava cheio de estrelas, não havia nem um sinal de alerta, mas estava alerta, pro que poderia rolar na nova escola, pro novo emprego da mamãe, sei lá, vir pra cá era uma decisão arriscada e isso nos trás riscos, as coisas podem dar errado, a escola pode ser péssima, ser advogada pode lembra mamãe péssimas coisas do passado, ela parece tão fraca agora.
 Ela foi me deixar na escola com Ju, que falava algo sobre bolhas e circo, nem ouvi tudo, eu realmente estava tenso. Chegamos à escola. Era um lugar majestoso, enorme, bonita, cheia de gente, a farda era bonita, duas letras, fácil de decorar, seria bom, eu não seria facilmente notado, perfeito.
 Mamãe estacionou o carro numa boa vaga sobre um salgueiro, parecido com o da chácara, mas esse era mais velho e triste, pegou o elevador cheio de homens, estava nervosa, chegou ao andar correto, uma enorme sala cheia de cabines, cheias de pessoas, logo ela pode ver seu velho amigo de faculdade, que conseguiu o emprego pra ela, Rafael Melo, os dois se cumprimentaram.
- Você está linda. – disse Rafael. - Continua linda.
 Ju logo encontrou Ruan e abraçou-o, ele era bem bonito, mas não se comparava ao Victor ou ao Gean, o corpo ainda era meio magro.  Ele nos deixou em sala, que por acaso era a mesma, mesma da Ju e da namorada do Victor, Jéssica. A sala era enorme, bem longa, cheia de gente, devia caber umas 60 ou mais pessoas ali. Sentamos na terceira e quarta carteiras da quinta e sexta fila, respectivamente.
- Cadê a Débora? Soube que vocês se casaram. – disse mamãe pra Rafael, no escritório deles.
- Nos separamos há dois anos.
- Ah...
- Sem problemas.
 Uma menina entrou na sala, seguida por outra, Jéssica, era alta, perfeitamente magra, linda, sexy, cabelos californianos, tinha um bunda grande, pernas grosas, eu nem valia como concorrência, ela era perfeita. A outra menina era quase um clone perfeito se não fosse pela face de criança:
- Julianne arranjou amiguinho novo.
- É o Bob.
- Bem vindo novato. – ela não parecia tão má agora – Julianne você devia ter me avisado que o Victor iria sair da escola.
- Ele saiu? – eu disse espantado.
- Ele não saiu.
- Ele me disse que saiu.
- Só houve alguns problemas.
- Diga!
- Não!
- Eu sou NAMORADA dele, tenho direito de saber.
-Tem sim! – disse o clone do lado de Jéssica.
- Pergunte a ele. Seu NAMORADO.
- Sua ridícula, idiota...
- Vadia... – disse Ju. Preferi permanecer calado.
- Cuidado novato, ela vai acabar com sua reputação!
- Que reputação?
- O que você tá falando.
- Você sabe mais do que ninguém porque eu terminei com o Paulo.
- Porque você é uma vadia.
 Nessa hora, já havia uma espécie de roda em volta das duas:
- Porque você é uma péssima amante. E meu primo é um burro.
 É acho que é preciso de uma recapitulada. Pelo que Ju me disse é fácil, na verdade difícil. Victor e Paulo sempre foram os melhores amigos, antes só por morarem no mesmo prédio, ele e Jéssica estudavam juntos até que ele repetiu, os dois mudaram de escola foram pra mesma escola de Victor de Ju, Ju e Jéssica se tornaram melhores amigas, Ruan colega de sala de Victor entrou pro grupo, eles eram as cinco pessoas mais badaladas e populares da escola e estavam no top 15 de Fortaleza. Ju começou a namorar com Paulo e Victor com Jéssica depois de muita insistência de Ju sobre Victor, o problema é que depois que Victor foi morar no prédio da Ju, Paulo e Jéssica começaram a ficar mais tempos juntos, só eles, por morarem no mesmo lugar, logo estavam ficando, pelo que Ju me disse transavam diariamente, Victor nunca soube a causa real, mas Ju pegou os dois no flagra depois que Ruan disse que viu os dois indo pros vestiários, Ju tentou arrancar todos os cabelos de Jéssica e terminou com Paulo, que apesar de tudo continua com Jéssica, escondidos claro, Victor nunca soube a verdade, nunca percebeu. Ju nunca teve coragem pra contar e logo agora que o pai dele está com sérios problemas com bebida isso só pioraria a vida de Victor, Jéssica é uma vadia, mas o sexo o faz melhor.
- Sua vaca.
- Julianne você é muito ridícula mesmo, por isso que o Paulo de largou! Você é uma moleca.
 Ju saiu da sala.
- Eu não agüento mais segurar isso Bob.
- Imagino.
- Cansei. De me fazer de boba e fazer ele de bobo.
- Hurrun...
- Você precisa me ajudar ele nem fala comigo direito.
- Claro.
15: 00
 Eu estava sentado na cama dele, o lugar tinha um bom cheiro de perfume, a casa estava bem arrumada, até porque havia uma senhora arrumando ela:
- Valeu por me receber aqui.
- Que é isso cara. Somos vizinhos né.
- Hurrun...
- Mas por que você tá aqui?
- Eu vim te pedir pra voltar pra escola.
- Plano da Ju. Eu sei... Sem chance Hael.
- Victor!
- Hael! Eu sou uma droga, eu sou burro, você não me conhece eu sou uma droga.
- Não, não é.
- Sou sim, não discuta. Não posso cair nesse plano.
- Não é plano. É sua vida. Você precisa passar na faculdade, ainda dá tempo. Dois meses, cara. Você pode.
- Não sei. Tenho pouca grana.
- Eu tenho uma idéia.
 No outro fui com Victor á escola, falamos com o coordenador e ele concordou em deixar Victor ser um dos instrutores, seria uma boa pra Victor se esforçar nos estudos, além que ele iria ajudar alguém:
- Ele pode ser o seu ajudante. – disse o coordenador.
 Fiquei meio tenso, eu não iria me concentrar se ficasse o vendo, Victor era muito lindo.
- Eu acho ótimo. – Victor pareceu gostar de idéia.
- Você é novato, precisa de assistência especial, vocês já se conhecem, isso já melhora a situação. – o coordenador acrescentou.
- Pode ser.
- Então, Victor próxima semana eu quero você aqui.
 Meu Deus!
21: 00
Gean foi me ver na segunda, jantamos juntos com a mamãe que falou sobre seu novo escritório, disse que tinha uma sala só pra ela e que tinha um chefe bem sexy, Gean queria saber como foi meu dia, disse como havia ocorrido a briga, o problema do Victor:
- Quer dizer que agora você é amigo do problemático? – disse Gean quase ironicamente.
- Ele não é problemático!
- Quem?
- Nosso vizinho aqui mamãe.
- Hummmm... Ele é um gato.
- Seu filho também acha. Com licença.
 Gean se levantou e foi na varanda.
- Vai lá filho. - fiz um ok com a cabeça e fui à busca do meu namorado ciumento.
- Eu não gosto dele.
- Eu vi como você o olhou.
- Gean, eu não gosto dele. Eu só quero ajudar.
- Tem que ajudar logo ele?
- Ele não é tão ruim assim como você pensa.
- Qualquer pessoa que queira tirar você de mim é ruim pra mim.
- Você está sendo infantil.
- Ok! Acho melhor eu ir embora.
- Gean! O que tá acontecendo?
- Namorado passa mais tempo com um delinqüente do que comigo.
- Você passa o dia trabalhando.
- Você não faz o mínimo esforço pra me ver Bob.
- Não é verdade.
- Não?
- Não. Você tá muito estressado.
- Só estou com medo de te perder.
- Gean!
- Eu tenho meus medos Sr. Hael.
- Você precisa confiar em mim. Ele nem dá em cima de mim, tem namorada, relaxa.
- Bob... O que você quer dizer com isso?
- Isso o que?
- Quer dizer que se ele estivesse solteiro e desse em cima de você...
- Não é isso... Você tá louco.
- Melhor eu ir. Já deu por hoje.
- Já mesmo.
 Gean saiu rápido se despedindo apenas da mamãe:
- Filho...
 Não quis ouvi-la, corri e comecei a chorar na minha cama, Victor estava na janela:
- Bob o que t... – fechei a cortina.
 O que tá acontecendo comigo?
Oito de abril
11: 01
 Mamãe teve sua primeira sessão de quimioterapia, Dr. Ótto fez alguns exames pra saber como estava indo os avanços da doença. Gean não havia mais dado nem um sinal de vida, eu estava desolado, as aulas pareciam eternidades e o céu não queria chorar mais comigo:
- Ele é lindo.
- Hurrun.
- Devia ter Orkut.
  Ri.
- Nem sei o que nos somos agora!
 Eu e Ju conversávamos no quarto rosa dela:
- A briga foi tão feia assim?
- Muito.
- Relaxa, eles sempre voltam.
- O Paulo já veio 12 vezes. Eu me seguro sempre.
- Mas o Gean é um homem Ju, eu que sou o moleque da história.
- O que aconteceu? Qual o motivo?
- O Victor!
- Mentira?!
- Sério!
- Isso quer dizer...
- Não sei Ju, eu tou muito confuso.
- Imagino.
- Eu nem sei o que fazer. Eu já liguei mil vezes e nada.
- Vai dar tudo certo.
- Não quero perder o Gean.
- Por quê?
 Talvez agora eu não soubesse mais o motivo pra continuar aquilo com Gean, eu só não queria ficar sozinho e eu gosto dele, mas não sei se vai dar certo nosso namoro:
- É só uma crise.
- Eu não sei o que fazer.
- Filho ele volta.
- E se não mãe?
 Mamãe não soube responder, ninguém poderia me responder.
11 de abril
11: 02
Naquele domingo muitas respostas foram respondidas, eu estava fazendo compras com mamãe no super mercado próximo do Romênia, quando decidi comprar o jornal por ter visto algo que me arrasou, esmigalhou meu coração, simplesmente acabou comigo. Não mostrei pra mamãe, levamos as compras, tomei uma ducha pra tentar me acalmar, então decidi ir à fonte, eu fui à casa do Gean.
 Liguei pra Ju, Victor pegou o carro do pai e nos levaram, os dois ficaram esperando enquanto eu subia com a página do jornal sendo esmagada pela raiva em meus dedos. Toquei a companhia, procurei a chave no quarto de limpeza, achei uma, tentei abri a porta, mas Pedro abriu antes:
- Descobriu nosso segredo. – Pedro apareceu só de cueca som seu sorriso usual.
- Cadê o Gean? – ele notou que eu não estava de brincadeira.
- Bob...
 Entrei no lugar, mal olhei, mas percebi que era bem bagunçado, tipo meu quarto na chácara. Fui atrás nos quartos:
- Ele não tá aqui!
- Cadê ele? – meus olhos cheios de lágrimas não sabiam o que esperar.
- Bob... – Pedro estava muito triste agora.
- Quem é ela?
- Ah Meu Deus!
- Pedro, por favor!
- Por favor, digo eu!
- O que tá acontecendo?
 Eu mostrava a folha com uma imensa foto de Gean abraçado com uma bela moça chamada Alana, sob uma ligada:
“Os felizes noivos Gean e Alana...”
- Bob essa é a noiva dele?
- Como assim?
- Ai Meu Deus! Eu disse á ele! Eu juro.
- O que tá acontecendo? – gritei chorando desesperadamente.
- Eles vão se casar em duas semanas.
- Por que ele fez isso comigo?
- Bob...
- Por quê?
- Ele gosta de você?
- Então porque ele vai casar com ela?
- Você não entenderia.
- Me explique!
- Ele que tem que dizer. Eu já falei demais. Desculpa.
- É mentira. Ele não pode ter feito isso comigo Pedro! Não!
 Pedro não disse mais nada.
- Canalha. Cadê ele?
- Eles estão morando juntos!
- Desde quando?
- Segunda.
- Eu quero o endereço.
 Sai de lá, chorei muito, Ju tentava me acalmar no carro, Victor pareça tenso também, decidiram me levar pra praia, esperamos o por do sol, Victor me abraçou e aquilo me fez esquecer tudo, até o canalha do Gean. Como eu pude cair nessa armadilha? Era muito perfeito pra ser verdadeiro. Tinha que ter algum problema. O mar se movimentava lentamente, as gaivotas voavam baixo, dormi no ombro do Victor. Levaram-me pra casa, acordei na minha cama quentinha e triste, mamãe estava totalmente sem respostas, decidi dizer que havia terminado com Gean. Tive que ir pra aula, mas um dia cheio...
12 de abril
13: 02
  Estava tendo aula com Victor de física, estava sem saco, triste e apaixonado pelo professor, Victor era eternamente lindo e me ensinava perfeitamente. Pena que Jéssica chegou com sua falsidade insana:
- Oi amor! OI novato!
- Ele tem nome!
- Você também e eu te chamo de amor, não é juma ofensa!
- Jéssica!
- Ele não se incomoda! Né Novato? – Jéssica quase se quebra ao meio se inclinando com uma cara de sonsa pra mim.
- Hurrun... – que ódio. Não quis ser chato.
- Tchau gente. – Jéssica dando um beijo nojento em Victor.
- Vamos voltar à aula. – disse sorrindo, que professor gato.
- Vamos!
 Depois de um tempo cansamos e fomos pra cantina onde encontramos Jéssica e Ju brigando outra vez, mas dessa vez o coordenador estava lá segurando Jéssica que queria avançar em Ju que estava sendo segurada por Ruan.
- Sua vadia!
- Garotas, CHEGA! – gritava o coordenador.
- Todo mundo sabe quem você é JéssiCU.
- Sua...
- Relaxa que seu segredo tá a salvo comigo. Ou não.
- Que segredo? – perguntou Victor entrando no meio da briga.
- Me solta Ruan. – Ruan atendeu a amiga. – Sua namoradinha, meu primo... É uma vadia.
- Ju... – Victor estava tenso.
- Mentira! – gritava ironicamente Jéssica.
 De repente Paulo chega e Ju continua a confissão, que tenso:
- Victor, o Paulo e Jéssica... Tem um caso, por isso que eu terminei com ele!
- Isso é verdade? – pergunta Victor pra Paulo, que estava boquiaberto.
- Amor ela é uma louca. – gritou Jéssica.
- Cala a boca, to falando com ele. –adorei essa Victor.
- Sim. – Paulo baixou a cabeça.
 Victor começou a bater em Paulo que rebatei com força a surra, os dois foram apartados pelos alunos e levados a direção, nada ocorreu, Jéssica chorava e pedia o perdão de Victor que saiu da sala restando apenas o desprezo, Ju tentou falar com o primo, mas ele estava com raiva dela também:
- Ela podia ter me dito antes, tô me sentido uma piada agora! Meu melhor amigo cara!
 Aos poucos Victor voltou a falar com Ju, mas, ainda havia alguns ressentimentos, a convivência estava difícil na escola, Jéssica agora era nossa inimiga numero um e eu iria ficar do lado da Ju para o que der e vier:
- E eu também. – disse Ruan beijando a amiga.
14 de abril
12: 00
A terapia da mamãe estava dando certo, ela estava com um melhor alto estima, feliz e o chefe o tal de Rafael havia a chamado para um encontro e eu estava estagnado, sem vida social só vendo o tempo passar:
- Vai lá bixa!
- Onde?
- Na casa deles!
- Quê?
- Faz o barraco! Acaba com o bofe!
- Não! Eu não seria capaz!
- Deixa de ser besta!
- Não dá!
 Ju até tentou, mas eu não tinha coragem de chegar na casa deles e falar pra tal Alana que eu era o caso do noivo dela:
- Eu enganei meu primo, me sinto mal por isso. Com certeza sei como você esta se sentindo. Você vai se sentir livre depois que contar.
- Não dá.
- Bob. Acorda.
- Não vou destruir o casamento dele. Não vou me rebaixar, descer ao nível dele.
- Você que sabe!
- Eu não conseguiria Ju!
- Claro que conseguiria.
Decidi ficar mais tempo com Victor, ele estava mal, eu também, ele só tinha a mim de amigo agora, na verdade eu tinha esperança dele me olhar e pensar:
“Cara, eu quero ficar com ele”
 Mas não aconteceu, nós ficávamos falando de nos mesmos, o que não era tão mal, acho que agora eu sabia mais dele do que qualquer outra namorada:
- Minha mãe nos deixou quando eu tinha três anos, ela sempre vinha no natal, mas depois de um tempo ela nem vinha mais. Meu pai sempre cuidou de mim, mas eu considero minha mãe é a tia Marina, mãe da Ju, ela me ajudou muito, o papai sempre foi o irmão favorito dela, minha mãe nem me liga mais, eu tento não importa, mas, caralho, minha mãe é um vagabunda, ela tá casada com um português que era garoto de programa, ela me dá nojo, o dinheiro que ela manda nunca vai compensar o que ela fez com a gente, a depressão do meu pai é culpa dela Bob. Ela não avisou que iria por Rio, ela simplesmente foi...
 Victor parecia um garoto abandonado, a mãe era uma vadia, o pai um viciado, mas era um bom garoto, um dia ele iria entender tudo e ser feliz de verdade:
- Meu primeiro beijou foi com oito anos, com uma menina do prédio chamada Larissa. E o seu?
- 17.
- Menino ou menina?
- Menina.
- Sério?
- Hurrun.
- E a virgindade?
- 17.
- Eu perdi a virgindade com 13 anos.
- Sério?
- Ela tinha 26 anos, era muito gostosa, eu nunca tinha bebido e estava no Morro Branco. E...
- Imagino. – ri.
- Sério. E você?
- Foi com o Gean!
- Hummmm... Você ainda gosta dele?
- Não sei! Acho que não.
- Ele foi um canalha mesmo.
- Eu posso fazer muita merda, mas trair eu não acho certo.
- Você tá certo.
- Eu tou tentando ser uma pessoa melhor. Depois que meu pai começou a ter problemas com bebida eu parei! Mas, naquele dia eu havia brigado com minha mãe! Eu tava puto. Mas agora parei mesmo... Eu fico muito mal depois, eu fico pensando como a vida poderia ser melhor, como eu poderias está agora se tivesse me esforçado pra entrar na faculdade, mas eu vacilei, passei o ano zuando, tou perdendo tempo.
- Um dia você vai entender que tudo tem um grande propósito...
- Espero tou cansado Hael, preciso de alguém. – vale eu? – Eu gosto de tá namorando, nunca gostei de paquerar, não gosto de ficar em festa assim, uma vez e nunca mais, gosto das coisas serias, mas tá tão difícil, não me imagino mais com a Jéssica, talvez eu precise de um tempo sei lá?! Só quero ficar em paz...
- Entendo... Eu também. Eu sei exatamente como você se sente.
22: 00
 Meu celular passava um bom tempo tocando, era o Gean, eu não podia atender, eu Enem sabia o que fazer, havia milhares de mensagens:
“Eu te amo”
“Me perdoa”
“Podemos conversar?”
“Preciso te ver”
“O Pedro me disse, só quero que saiba que nunca menti sobre gostar de você”
 Aquilo me dava náuseas, como ele podia ser tão sínico? Ele me usou e estava usando a pobre Alana, eu fui um brinquedinho e agora eu tinha quebrado e sido jogado no lixo, que canalha! Eu sei o quão eu sou dramático, mas ele dessa vez pegou pesado:
- Para de ligar!
- Eu te amo!
- Você não ama ninguém nem nada.
- Precisamos conversar.
- Tchau.
- Por favor, bebê.
- Não me chama de bebê, seu cafajeste.
- Bob...
 Desliguei. Aquilo não me fez dormir melhor, nada faria, a única solução pra tudo isso seria Victor e ele era muito impossível e eu sabia isso. Sonhei com a chácara, só eu e piscina, chovia e eu me sentia acolhido.