21 de dezembro de 2010

seis


1 de março
12h
 Cheguei da escola na segunda na expectativa de encontrar tia Sarah já em casa, mamãe me deixou na porta da chácara e voltou pra rádio. O dia estava nublado, eu teria que estudar pra prova de química amanhã, por isso chamei a Dani, uma colega minha pra estudar comigo, ela iria vir no fim da tarde, o irmão dela nunca gostou de mim, mas...
 Desde o primeiro ano o cara me atormenta quando ele saiu da escola foi um alívio, pena que ele continua na cidade, coisa que vai mudar já que o pai deles conseguiu um voltar a um antigo emprego que tinha em Fortaleza, na verdade eles são de Recife, mas sempre viveram em Fortaleza, até o pai vir pra Guaramiranga, pouco tempo depois eu os conheci, Dani sempre foi muito doce, nesse ano ela mudou completamente, os belos cabelos loiros grandes e torneados, deram lugar a um corte bem curtinho, que mal chegava no queixo, eu a considerava a mais bonita da cidade, o irmão também, David, tinha um rosto encantadoramente lindo, o que deixava sua maldade mais cruel, ele tinha uma cara de ano que não acomodava tanta maldade.
 Tia Sarah chegou umas duas horas da tarde, mamãe a trouxe emocionada, vovó que não via a filha há uns três anos, não pode segurar a emoção, todos precisavam de um pouco de emoção, ela trouxe um monte de roupa, perfumes e um presente que me deixou entusiasmadíssimo, um iphone, novinho, cheirinho de novo, além de um notebook vaio azul, era muito lindo, eu abandonei o velho PC durão, e com monitor gordo pra sempre agora.
 Minha tia trabalhava com moda e isso era bom, já que não tinha filhos todas às regalias sobrava pra mim, isso era muito massa, roupas caras, tênis caros, tudo caro, coisas que ela ganhava de graça ou comprava em suas viagens pelo país e pelo mundo. Além de usar roupas muito perfeitas tia Sarah parecia uma modelo ainda, mesmo depois de abandonar a velha profissão, cabelos loiros curtos, mas maiores que o da Dani, com algumas mechas morenas a diferenciava mais ainda da mamãe, que com o tempo deu um engordada, não muito, mas o necessário pra ganhar alguns números na balança.
 Tomamos o café da tarde, fofocamos, mamãe lembrou-se de Marcondes:
- Ele continua muito charmoso. – disse mamãe morta de empolgada.
- Nem me fale, próximo assunto gente...
 Fiquei esperando Dani na varanda, nem um pouco atrasada ela chegou com o irmão me olhando torto, nem dei bola, a beijei na bochecha, subimos e fomos pro meu quarto, o que ela não sabe é que eu sou gay, por isso que ela continuava gostando de mim, pelo menos foi o que uma amiga dela me disse, que amiga, e o que aparenta.
 Estudamos, ela me olhava às vezes esperando algo mais que um sorrisinho meia boca, percorria minhas mão escrevendo, meus lábios enquanto eu falava, a verdade é que aquilo me assustava, ela era linda, mas só isso, eu não sentia nada por ela. Eu sinceramente nem sabia o que dizer.
 Ficou tarde descemos, as escadas, passamos pela sala, todos se despediram, saímos e pude ouvir como um ruído:
- Pena que o irmão é um perturbado.
 Chegamos a varanda, o som dos sapos e grilos, cri, cri, cri, ela me olhava diferente:
- Dani... – quis quebrar o gelo.
- Bob?
- Seu irmão me odeia né. – porque eu sempre falo nele?
- Ele é difícil, não é só com você.
Cri, cri, cri.
- Mas eu gosto de você.
- Eu sei. – disse sorrindo.
 Estávamos sentados na varanda, ele se aproximou e me beijou, Dani era corajosa, mas isso me assustava, pude ouvir o som do carro se aproximar. Tentei alertar...
- Da...ni...
 Ela não me ouviu. David parou o carro e saiu dele descaradamente desesperado, começou a gritar:
- Solta ele...
- David.
 Pegou Dani pelo braço firmemente e pôs no carro. Ela ficou calada, minha mãe saiu de casa:
- O que tá acontecendo.
- Ela me beijou. – disse aterrorizado.
 Davis acelerou e logo sumiu pela escuridão.
- Ele é um louco, esse menino precisa aprender a viver.
 Eu sempre achei que ele só precisava ser ouvido, tinha pena dele, e as vezes eu gostava dele, nem sei porque. Eu sou um burro, nem todo mundo pode mudar, porque nem todo mundo quer mudar.
2 de março
11h
 Parece que o pesadelo nunca vai passar, eu esperava mamãe na frente da escola, Dani apareceu.
- Oi Bob.
- Oi Dani.
 Envergonhada Dani ficou na minha frente meio calada.
- Desculpa por ontem.
 David chegou buzinando, saiu do carro, Dani foi em sua direção.
- O que você tá falando com esse gayzinho heim? - David estava descontrolado.
- Ele é meu amigo!
- Você ficou com ele, um viado sua idiota. Eu vi.
 David chegou a mim, me deu um saco, caí.
- Seu idiota! - Dani tentou afastar David, mas ele deu um tapa nela, eu levantei tentei algo.
 - Eu to sangrando. Socorro! 
 Dani estava sangrando pela cabeça. David me soltou. Olhou pra irmã caída no chão, todos fomos pro hospital, minha mãe chegou desesperada:
- Seu vagabundo, ridículo...
 Ela gritava com David que permaneceu sentado de cabeça baixa.
- Mãe passou.
- Não passou nada, Bob, chega.
-Mãe.
  Aproximei-me dele.
- Sim David, eu sou gay, muito orgulho disse, não tenho vergonha disso, não tenho vergonha de quem eu sou você que precisa aprender alguma coisa aqui, você afasta todo mundo de você cara, isso só e ruim pra você.
- Você não me conhece.
- Conheço o bastante pra saber que... – falei baixinho. – Você gosta de mim.
- Você é louco.
- Não, você é louco.
 Sai e ele ficou lá, olhando pro nada, esperando Dani, que não falou mais com ele. Os pais lhe deram um castigo, coisa boba, nada suficiente para parar a fúria do menino, eu nem sabia se ele gostava de mim, talvez não, arrisquei, e deu certo.
25 de março
19h 46min.
 Alguém chamou a policia, em poucos minutos todos estávamos na delegacia da cidade, David e Gean de frente um pro outro com os olhos roxos, foi até engraçada a cena. Mamãe chegou quase louca, tia Sarah nem aparecer assim como Pedro, que provavelmente estavam transando em algum pinto da cidade.
- O que tá acontecendo aqui delegado? - mamãe parecia e estava histérica.
- Os dois jovens foram encontrados se matando pela rua. - disse o delegado meio tenso, gaguejando, e com uma voz impressionantemente engraçada. Quase ri.
- Eu vou matar vocês dois!
 Gean tentava se acalmar. Abraçava-me, mas num conseguia parar quieto. Eu tentava ver os machucados, mas não deu.
- Eu já liguei pro meu advogado, pode ir embora meu bem.
- Eu não vou te deixar sozinho. - eu não vou abandonar ele logo agora. - Mãe vai dormir eu fico aqui. O Pedro vai me deixar mais tarde.
- Não vou deixar você nesse lugar assim. – disse mamãe.
- Meu advogado vai chegar pela manhã, pode ir.
- Não vai precisar rapaz! - disse o delegado voltando da sala onde David estava com a família. - Eles não vão prestar queixa.
 Todos ficaram surpresos. Saímos. Entramos no carro. Gean pôde dormir na minha casa.
- Eu acho que eu te amo carinha.
 Gean me surpreendeu enquanto eu limpava os ferimentos, sentei no colo dele, o beijei, mamãe chegou:
- Gente eu trouxe esse remédio aqui. – disse meio envergonhada. – Cicatriza melhor.
 Deixou o remédio sobre a mesa.
- Você pode morar comigo, a gente pode ficar junto mesmo.
 Levantei:
- Não posso.
- Por quê? Cê vai poder ver sua mãe sempre.
- Não vamos pra lá só pra morar G.
- Como assim?
- Minha mãe tá com câncer.
 Ele não soube o que dizer, eu comecei a chorar, Gean se levantou tirou o algodão ensangüentado da minha mão e me abraçou:
- Eu vou te ajudar.
- Brigado.
 Fomos dormir juntos, nada de sexo, mas foi maravilhoso,é muito bom ficar agarradinho com você gosta, foi uma das melhores noites da minha vida.
19h
 Sarah foi deixar mamãe no sítio:
- Vou à casa da mamãe pegar minha ultimas roupas esqueci oh.
- Deixa pra amanhã.
- Não...
 No meio da estrada o carro para e alguém entra, tia Sarah estaciona o carro atrás da igreja e os dói começam o amasso, era Pedro, que depois de passar todo o jantar alisando as pernas de Sarah conseguiu o que queria, nem tudo, aliás,  Marcondes que estava indo pra casa viu de longe o carro da ex namorada e se aproximou, ao chegar perto e vê o que esta rolando fica doidinho.
- Sarah. – o médico quase quebra a janela do carro enquanto bate nela em busca de respostas.
Sarah abaixa o vidro lentamente, envergonhada:
- Marcondes o que você tá fazendo aqui?
- Ah cara deixa de encher o saco da moça. –diz Pedro que já estava com a camisinha na mão.
 Sarah sai do carro.
- A gente não tem nada Marco, não tenho explicações a te dar. – diz tremendo desde a mão a própria voz.
- Eu te amo.
- Você mentiu pra mim.
- Que?
- Você tem um filho com a Sandrinha.
- Não.
- Chega de mentiras.
 Minha tia entrou no carro, saiu:
- Vou te deixar em casa Pedro.
- Eu posso te acalmar.
- Não quero, desculpa gostoso.
- Ok.
 Ela volta pra casa, hora de chorar.
 26 de março
9h.
 Havia folhas na piscina. A velha árvore estava perdendo sua cor usual. Gean ficou me olhando nadar por um tempo. O tempo nublado deixava o ar mais frio, Gean foi embora, fiquei arrumando as malas, roupas, tênis, carregadores, notebook, iphone, celular, filmes, CDs, jogos, TV, Xbox, tudo. A casa havia se tornado um mar de caixas marrons, poucas coisas restavam, Tia Sarah meio abatida pela noite anterior, estava toda inchada e cheia de olheiras. Mamãe firme e forte arrumando a casa.
 Os caminhos chegaram ao fim da tarde, mamãe se despediu da casa cômodo por cômodo, a casa estava cinza e triste, assim como mamãe que veio chorando, Gean me abraçou, me confortou, ele sabia me fazer me sentir bem, , as janelas foram fechadas, as portas trancadas, Gean e Pedro saíram na frente em direção ao hotel, mamãe entrou no carro, todos entramos:
- Vida nova. – tia Sarah tentando animá-la.
- A gente volta.
- Não sei filho.
 Gean decidiu conosco, Pedro só iria no domingo, dia que iria acabar o campeonato, coisa que ele perdeu há muito tempo, mas, ele trabalhava pra um dos patrocinadores, o que o prendia até o fim da competição. O caminho era longo, mamãe só teria essa chance, seria o melhor a se fazer.

19 de dezembro de 2010

cinco

27 de novembro
2h 50min.
Percorri o corredor frio, fechei a porta da varanda aberta, o chão molhado quase me fez escorregar, Gean apareceu arrumado:
- Você quer ficar aqui hoje?
- Gean eu...
- Não tem problema, ninguém vem hoje, o Pedro vai dormir na casa duma gatinha dele.
- Não posso.
- Por quê?
- Eu preciso de você. – realmente eu estava tenso.
- Bob, você sabe que sempre vou tá aqui pra você.
- Eu quero que você me leve pra casa.
- Vou pegar a chave do carro, não, melhor. Eu vou chamar um taxi, posso dormir lá?
- Vai sair caro um taxi pra lá.
- Não heim.
- São só uns 10 quarteirões.
- Eu quero que você me leve pra Guará.
 Gean ficou me olhando pasmo, ele continuava lindo, e a barba ralinha dava um ar bem sério. Mas era passado, nós agora éramos quase estranhos agora eu só sabia que ele era um canalha e ele só sabia que eu era um idiota.
22 de março
07h.
 Acordei preparado para o que iria acontecer naquele dia, esperei mamãe sair com tia Sarah, liguei pro G, que já estava a caminho, chegou me beijou subimos as escadas, ele estava bem mais feliz que os outros dias, na noite anterior a gente havia combinado tudo. Seria tudo perfeito, segunda a mamãe sempre ia ao salão antes de ir pra rádio, naquela semana ela iria se despedir dos fãs e do trabalho tão querido.
 Tia Sarah decidiu ir entregar os últimos livros a biblioteca e eu ficaria sozinho em casa, minha mãe já havia me tirado da escola, já havia combinado a nova matricula na nova escola. Nós iríamos viajar na sexta, eram meus últimos momentos na chácara eu teria que aproveitar intensamente.
 Subimos as escadas Gean me abraçava e beijava de uma forma bem mais quente que as outras vezes, nos deitamos na cama eu o ajudei a tirar a camisa vermelha, de repente o prazer de ficar com ele foi elevado, e muito. Ele era maravilhoso, e foi à escolha certa. Sei que foi rápido, mas...
 E daí? Eu to afim ele também, nós estamos usando e camisinha e nos gostamos, eu não quero perder mais tempo. Eu quero viver, quem sabe um dia aparece uma doença em mim. Eu não quero olhar pra trás e ver que eu perdi meu tempo. Eu quero olhar e dizer:
- Eu faria tudo isso de novo.
07h10min.
 Mamãe dirigia pela estradinha verde e molhada:
- Mulher eu esqueci minha bolsa – mamãe disse pasma olhando pra estrada, enquanto isso Sarah se maquiava pelo espelho do carro.
- Mulher eu te deixo lá e venho pegar.
 Foi assim que rolou, mamãe entrou no salão, tia Sarah entrou no carro, voltou pra chácara, lembrou que eu tinha deixado iphone carregando na sala e foi levar pra mim. Merda de iphone. Eu e Gean estávamos tomando banho juntos, meu deus, muito bom, que homem gostoso. Pudi ouvir Sarah tentando abrir a porta olhei pra Gean:
- Fudeu!
- Bob?
- Pera tia.
 Sai do banheiro peguei a toalha abri a porta de forma que só minha cabeça ficasse amostra:
- Seu iphone!
- Valeu.
- O Gean tá ai?
 Como ela sabia?
- N... Sim.
- Quero ver vocês na sala em cinco minutos. – disse bem séria saindo da minha visão.
 Gean estava se secando, a cara de preocupado estava muito evidente isso me deixou nervoso, descemos a escadas de mãos dadas. Ela estava sentada no sofá balançando uma das pernas cruzadas. Nos sentamos no sofá a frente dela:
- Vocês estavam... Transando?
- A culpa é minha. – disse Gean tentando acalmá-la.
- Eu sei.
- Desculpa.
 Eu nem sabia o que dizer.
- Eu fiz por que eu quis tia.
 Certo, isso não ajudou.
- Não tem problema gente, é normal, é bom. Mas... Gean eu quero falar com ele a sós.
- Tá.
 Gean beijou minha testa e saiu em direção à piscina. Sarah ficou me olhando, não sérias, mas, preocupada.
- Eu não quero que você ache que eu sou uma chata, mas... Você acabou de conhecer esse cara. Você nem sabe o que ele quer da vida, que doenças têm, sei lá. Ele é um estranho.
 Ela estava certa, eu tinha vacilado mesmo. Mas, á pouco tempo atrás eu me achava o dono da razão, eu tinha planejado tudo, iria ser perfeito.
- Vocês se protegeram?
- Hurrun...
- Que bom. – nitidamente mais calmo.
- Sua mãe só tem você, querido, ela precisa de você agora. Você ficar com ele, mas nunca se esqueça que sua mãe te ama muito mais que ele, ou qualquer outro garoto. Você é um bom garoto, eu sei como é. Você esta maravilhada com ele, ele é muito lindo mesmo, eu sei. Mas não perca o foco, não deixe de vier por causa disso. Eu sei o que estou dizendo Bob.
 É eu sei.
08h55min.
- O Pedro deve estar chegando, eu queria passar o dia aqui, mas... Acho que estraguei tudo, desculpa.
- Não teve problema.
- Eu quero que você saiba que você não é qualquer um pra mim, pode até ser no começo, mas agora eu gosto de você de verdade, pode crer, eu posso não ser o melhor cara do mundo, mas isso é verdade. O que eu sinto por você é real. Sempre acredite nisso, eu gosto de você de verdade.
- Eu sei...
  Não eu não sabia, não sabia como era ser enganado, como eu me sentiria ao ser abandonado, mas, Gean pode me fazer sentir assim, enganado, ele acabou comigo e nem precisou se esforçar muito pra isso, ele só precisou ser ele mesmo. Um canalha.
25 de março
09h.
 Os dias passaram, a chuva voltou, mas agora ele estava comigo, me abraçando, sempre me deixando mais amparado, as vezes mamãe chorava de noite, eu ouvia mas não queria que ela soubesse isso, ela reagiu ate bem quando contamos sobre termos transado, Gean pedia pra namorar comigo pra ela, seria nosso ultimo dia na cidade.
 Tia Sarah acordou cedo e foi ao consultório de Dr. Marcondes, iria receber o resultado do exame de câncer, esperou na sala de espera, tensa, no rádio ligado na recepção, podia se ouvir mamãe se despedindo dos fãs.
-”... Quem sabe um dia eu volte, eu estarei feliz sempre que lembrar de vocês e desse lugar maravilhoso, vocês não são só minhas ouvintes são minha amigas, numa bela amizade construída nesses últimos anos que foram maravilhosos estando aqui sempre, eu sinceramente, amo vocês...”
As recepcionistas se emocionavam ouvindo a despedida da ilustre amiga, mamãe faria falta, o seu programa era o melhor de toda a região, ela já recebeu várias propostas em outras rádios, inclusive em Fortaleza e agora que estávamos indo pra lá, novas propostas apareceram, mas ela não aceitou, queria algo, mas esperado, algo que ela havia esquecido no tempo, ser advogada.
 Sarah foi chamada ao consultório, andou lentamente pelo corredor, abriu a porta, Marcondes estava sentado atrás da mesa lendo os exames.
- Oi.
- Oi.
- Você não tem a doença.
 Sarah sentiu um alivio que a fez poder respirar de novo, sorriu pra grande amor do passado, tentou pegar os exames...
- Sarah.
- Oi.
- Eu quero falar com você.
- Sobre?
- Sobre nós.
- Marc...
- Eu sei que eu errei, eu sei que você não merecia nada daquilo, eu era jovem e um  idiota, mas eu mudei. E eu sei o que eu quero. Eu quero você. Eu quero ficar com você, casar com você, quero você comigo pra sempre.
 Sarah sentia um sentimento muito grande por ele, talvez fosse amor, mas, ela não estava disposta a perder a vida de solteira, a vida alheia a qualquer um, uma vida construída com muito esforço, sozinha.
- Eu não posso.
 Ele a beijou. No corredor Sandrinha pode ouvir toda a conversa, ela sabia exatamente o que fazer pra afastar os dois de novo, não que ela tivesse alguma chance com ele, mas não aceitava Sarah ter. Sarah se afastou e saiu da sala.
 Sandrinha a seguiu.
- Você não vai cair nessa de novo né?
- Eu te ignoro.
- Você continua a mesma pirralha, nem sei como ele te quer.
- Sai daqui, sua vagabunda.
- Ok. Mas saiba que ele mentiu, eu tenho um caso com ele.
- Sem comentários.
- Não acredita é bonequinha?
- Claro que não sua biscate.
- Eu tenho um filho com ele, é, todo mundo sabe, até você, o meu mais novo é dele. Parece né. Puxou o pai, até disse que seria medico, que lindo. É algo genético.
 Sandrinha saiu, deixando Sarah desamparada no corredor com cheiro de remédio. Ela saiu de lá, entrou no carro, chorou, e lembrou:
- Todos são iguais.
19h
Peguei o celular, as chaves, o bendito iphone, desci as escadas me olhei no espelho da sala, estava lindo. Gean me esperava, estava lindo com uma blusa de mangas longas cinza e gola V, quase deixando amostra seu peito sarado, uma calça jeans bem skinny escura, um tênis preto Nike completava o meu príncipe encantado. Eu? Eu usava uma calça bem parecida com a dele, minha tia me trouxe, ela achou minha cara, com uma regata branca com algo preto perto do colo. Tia Sarah nos esperava no carro, todos iriam passar a noite na cidade. Seguimos pela estrada fria, não chovia, mas o frio estava em alta. Fomos pegar Pedro, que ficou na frente dando em cima da Sarah, ficamos atrás nos paparicando, eu me sentia a vontade pra beijar ele lá, eu estava seguro.
Comemos pizza, rimos, bebemos, brigamos, enfim, foi um noite diferente, muito boa, pelo menos durante o jantar, não foi uma boa idéia levar Gean pro jardim da vovó de novo, não por nós, mas alguém que eu pensava ter desistido da sua perseseguição por mim, David.
- Para de falar desse cara, relaxa, eu to aqui.
- Ele me olhou estranho na rua, e você é o que me dá medo.
- Eu vou te proteger.
- E quem vai te proteger?
 Era melhor eu relaxar, pelo menos eu pensei isso.
- Oi.
 David havia nos encontrado, pelo muro baixo ele nos olhava com uma cara de ódio bem ofensiva, Gean o encarou por algum tempo.
- O casalzinho está se escondendo pra poder se beijar é? Que nojento. Cara você vaio pra cá e pega a pior merda da região, isso é ruim heim. Tanta mulher no mundo. Eu tenho vontade de vomitar em vocês, eu devia acabar com você Hael, seu mentiroso, viadinho ridículo, enganou minha irmã. Você é desprezível.
- Cala a boca cara.
- Huuuu... O viado quer ser macho, não dá boióla.
 Foi assustadoramente bom ver Gean dar um soco nele, que pulou o muro, e começou a bater em Gean, eu tentei separar, até que David me acertou e cai.

18 de dezembro de 2010

quatro


27 de novembro
2h 47min.
 Corri por alguns quarteirões quase caindo em alguns deles, as ruas vazias, a chuva bem mais calma me deixava em paz, o frio não me incomodava mais, cheguei. Os prédios pareciam estar caindo. Os poucos carros estacionados, estavam cobertas pela água serena. Meu celular tocava, nem vi quem era. Tirei o capuz e vi o prédio do Gean, já estava quase lá.
 A janela do quarto dele estava aberta, pude ver a luz acessa, entrei e falei com o seu Fred, porteiro, ele sabia que eu e Gean tínhamos algo, isso sempre ajuda, eu disse que ia fazer uma surpresa. O elevador demorou, devia estar na cobertura. O frio sumiu num instante. Peguei a chave armário de limpeza abaixo da portinha pra escada. Entrei.
 A casa bagunçada como sempre, mas dessa vez pelo menos havia a desculpa de Gean de voltado há pouco tempo pra lá, A mesa cheia de comida e perfumes. O sofá com uma toalha molhada e um cheiro de homem adorável. A bancada da cozinha permanecia suja, como da ultima vez que fui lá. A geladeira estava quase abrindo, fechei. Cervejas no chão. Vidrinhos verdes coloriam a escuridão no corredor.
 Pude ouvir a TV ligada, estranho já que ele não dormia com barulho, Pedro devia estar na balada ou em algum motel com uma loirinha sacana. Fui ao quarto de Gean, a cama bagunçada, mas nada. O chuveiro funcionava. Pensei que ele podia estar com alguém. Mas não. Ele não faria isso. Pelo menos não agora. Tão rápido.
 O chuveiro fechou. Ele apareceu nu. Olhou-me um tempo, parecia não acreditar, nem se importou em tapar o que estava belamente amostra, eu fiquei parado sentado na cama bagunçado. Pegou a toalha e se cobriu. Eu nem sabia o que dizer, nem porque estava lá:
- A Alana me ligou, eu estava indo pra sua casa agora.
 Limpou o nariz, o olho de Gean estava estranhamente sem vida. Algo bem tenso. Ele comumente respirava juventude e vivacidade. Me puxou pelo braço e me abraçou, começamos a chorar.
2h 44min.
Alana entrou na casa surdamente, foi em direção a luz vinda do meu quarto.
- Oi Ju!
- Oi Lan Lan. – disse a garota sorrindo tristemente segurando um boneco velho do Homem Aranha. – Eu já liguei mil vezes pra ele e nada.
 Ju estava intacta mexendo em alguns bonecos que estavam bagunçados ao lado da televisão. O quarto estava sem vida, sem som, sem eu. A casa estava morta. Ju percebeu que eu havia deixado cair algum papel no chão, mas ia esperar Alana sair pra olhá-lo.
- Eu também.
- Ele estava bem?
- Não!
- O Gean ligou e disse que ia chegar daqui a pouco.
- Ah...
- Relaxa! O Bob não teria coragem de fazer algo louco...
- Algo louco? Como assim?
 Ju permaneceu calada, acho que falou demais.
- Tipo o quê? O que você sabe Ju?
- Tipo... Se matar.
3h 07min.
- Alana?
 Ju olhava pra Alana que chorava deitada no sofá.
- Que foi amor?
- O Gean não poder vir. Parece que o Pedro se meteu em encrenca, eu disse que não tem problema.
- Ele sempre foge das coisas né?!
- O Bob nem ta aqui mesmo.
- Mas vai vir.
- Não Alana, ele não vai vir. E, eu acho bem mais sensato você ir pra casa dormir.
- Eu vou ficar e esperar ele. – Alana disse quase que possessivamente.
 Ju não queria discutir, ela sabia o que estava rolando, tinha tudo sobe controle, Alana só perderia seu tempo lá.
- Eu vou em casa depois volto, ok? – Ju disse saindo.
- Ok!
17 de março
21h.
- Eu lembro porque vim Sophie, e eu não vou voltar sem isso.
- Eu sei, mas eu não posso te ajudar. É o fim.
- Não, você pode ficar bem.
- Não!
- Eu vou pagar o melhor tratamento!
- Eu não me preocupo com isso eu só quero que ele seja feliz.
- Eu posso levá-lo pro Rio.
- Se ele quiser. Mas eu vou ser enterrada aqui. Do lado da mamãe.
- Você é muito negativa.
- Eu só quero ir e deixá-lo bem.
- Eu cuido dele.
 As duas falavam baixinho na cozinha, era impossível eu ouvir, mas é sempre bom evitar conflitos.
- Eu tenho plano Sarah, e se ele der certo, vai ficar bom pra todo mundo.
- Ele...?
- Não quero que ele me veja como uma fraca.
- Você é uma fraca?
- Eu só estou cansada.
21h.
 Gean me olhava vendo o prédio antigo.
- Eu queria mesmo ficar com você. Sério.
- Hurrun... – disse baixinho.
 Gean tentou me abraçar, beijou meu pescoço.
- Aqui não G.
- Tá certo.
  Nós estávamos andando pelas ruas desertas e serenas da cidade, Gean andava com dificuldade, mas ajudava ele. A lua baixa, o friozinho rotineiro, as pessoas passavam raramente, quem nos via comentava baixinho algo a pessoa do lado, olhares de desaprovação, Gean nem olhava. Ele era bem simples, mais sua simplicidade só o deixava mais lindo. 
- Quero te levar num lugar.
- Vamos. – disse sorrindo e me olhando fixamente.
 Ele me deixava seguro, talvez ele não fosse tão seguro, mas era bem firme, isso me dava medo. Seguimos até o fim da rua, viramos na esquina, passamos pela praça, passaram-se alguns quarteirões.  Chegamos a rua escura, as luzes apagadas, as portas fechados, a rua vaga. Chegamos lá. A casa da vovó parecia abandonada, as árvores velhas não permitiam uma visão do telhado, a escuridão da noite ajudava a esconder as flores e plantas que dormiam.
 Gean ficou maravilhado com o jardim largo e sem fim e o casarão no fim da estradinha verde. Entramos, eu andava com uma chave da casa no meu chaveiro de lanterna, Gean ficou vendo o lago.
- Quem mora aqui?
- Ninguém.
- Como assim?
- Minha vó morreu, ela morava aqui.
- Ah... Quando?
- No dia que eu te conheci.
 Gean me olhou meio triste, ficou meio pasmo, não disse nada, abraçou, beijou minha testa, eu me agarrei nos braços daquele homem maravilhoso na minha frente. Ele me beijou, fomos ficar no banquinho perto do lago.
- Eu gostei muito de te conhecer.
- Eu também. Muito.
 Ficamos lá um tempinho, a chuva quase vinha, fechamos a casa, corremos pela rua morta, chegamos à praça, ficamos esperando Pedro, que logo chegou buzinando desesperadamente pela cidade silenciosa.
- Bora?
 Entramos na Hilux completamente suja de lama. Ficamos sozinhos no banco de trás:
- Nem sabia que eu era motorista.
- Hehehe.
- E aí? Transaram muito na cidade? Tá vazia, se vocês fizessem uma oralzinha na praça ninguém ia ver.
- Pedro! – Gean disse quase gritando.
- Relaxa G. – eu disse beijando Gean na bochecha.
- Relaxa Gezinho. – Pedro enchendo o saco.
 Gean ficava com raiva, mas logo ria das idiotices que o amigo falava sem parar. Eles foram me deixar em casa, no caminho Pedro falou algo sobre uma menina que ele tinha conhecido, muito linda mais tinha namorado:
- Eu vou pegar aquela gostosa.
- Ah ta.
27 de fevereiro
07h 54min.
- Bob?
 Subi as escadas correndo, sempre eu ficava tenso quando ela chamava, tinha medo de algo de ruim ter acontecido, mas não.
- Oi vó.
 Ela se olhava no espelho velho de corpo todo que estava no seu quarto trazido de sua casa. Vovó estava com a gente há algum tempo, mas era como se a angustia fosse nova. Ela tinha uns 60 anos, era branquinha, baixa, tinha um rosto simples que lembrava a mamãe.
- Eu estou feia. – disse tirando o véu que cobria a cabeça sem cabelos.
- A senhora sempre vai ser linda.
- Quem dera filho. – ela pegava na cabeça e o olho ficava cada vez mais cheio de lágrimas. Os meus também, mas eu tentava esconder. – Eu estou morrendo de medo disso tudo.
- Como assim vó? De que?
- De morrer.
- Vó!
- Eu quero ver seu avô, estou com saudades, mas não quero sofrer. Tenho medo de como será essa passagem.
-... – não havia o que dizer. Abri a boca, mas nada saiu.
- Eu quero morrer na minha casa, aqui é lindo, mas eu quero ir pro meu lugar. Me ajuda filho...
- Claro vó.
- Eu sei que não vai demorar. Eu quero estar lá.
 Olhei pra trás, ninguém estava em casa...

17 de dezembro de 2010

três


27 de novembro
2h 28min.
 Sai lentamente da sala, limpando as lagrimas e o nariz levemente avermelhado, meu tênis estava sujo de lama e eu parecia um mendigo, Alana estava lá, bem mais serena do que antes. Veio me abraçar, eu não queria fazer aquilo tudo ficar pior, mas, eu me sentia ma em abraçá-la, me sentia um vagabundo, ridículo,  totalmente estúpido, fui cortês, saí pelo corredor aparentemente mais calmo, mas meu coração batia mais rápido do que nunca, eu senti um monte de coisas ao mesmo tempo, doía muito isso não dava pra mudar.
- Eu vou pra casa. – eu disse quase rispidamente.
- Eu te levo!
- Não precisa!
- Claro que precisa! Eu quero te levar.
- Você vai pra casa, é melhor descansar!
- Não! Bob!
- Alana eu vou sozinho!
- Eu não posso deixar!
- Eu quero que você vá embora.
- Eu vou te levar pra casa! – ela já estava tensa, parecia fraca, quase chorando, eu não queria fazê-la chorar, só queria afastá-la de mim.
- Você não manda em mim.
- Bob eu sei...
- Alana, por favor...
- Por favor...
- Tá muito tarde, é perigoso você andar pelas ruas assim, sozinho. Nem tem mais ônibus numa hora dessas.
- Eu me viro.
 Sai, andando pelo estacionamento, havia poucos carros, a lua estava baixa, a cidade morta, a leve chuva molhando os carros parados como os corações dos homens e mulheres presos debaixo do pano branco naquele cemitério branco. Alana tentou me seguir. Parou. Voltou, entrou no carro, me seguiu por algumas ruas, me chamava baixinho...
- Eu não te odeio.
- Pois devia! – virei à esquina. Alana buzinou. Nem olhei pra trás, estava indo de volta pra casa.
17 de março
O9h 59min.
 De repente o sol decidiu aparecer, eu peguei no sono umas cinco da manhã, estava bem calmo, não chegava a estar sereno, mas... Meu quarto estava extremamente claro, quentinho, mamãe tava com câncer.  Era inacreditável como tudo estava acontecendo tão rápido, me dava medo essa cronologia desregrada que havia se tornado minha vida.
 Pulei da cama, quase pisava no meu exemplar de Para Sempre novinho que tia Sarah havia trago quando chegou há um mês. Livrinho bom, pouco emoção,muita imaginação, já li uma vez to lendo de novo só pra entender melhor, sempre tive problemas em entender coisas. Será que o Gean é um imortal? Vampiro? Nem gosto tanto de Crepúsculo. Viagem. Enfim... Ele é bom demais pra ser verdade, lindo, sexy, inteligente, rico, tudo. Por que ele se interessaria por mim? Eu sou o que muitos acham de estranho perfeito.
 Eu sou alto, tenho cabelos castanhos quase negros, poucos por sinal, o que tento esconder com um moicano pequeno que me da um visual bem bonitinho em comparação ao que eu era no passado. Eu não era gordo, mas não era sarado como o Gean, acho que nadar na piscina todo dia me ajudou nesse aspecto. Sempre tentei me vestir discretamente, sempre admirei os discretos, isso os faz complexos e interessantes, pena que na cidade em que vivo ser discreto é simplesmente não existir, Guaramiranga tem quatro mil habitantes, isso nos faz um Vaticano nacional, a cidade é cheia de turistas, mas, só turistas, coisas rápidas, ninguém fica.
 Sempre sonhei em ir pra Fortaleza, fugir daquele mundinho, Dani mora lá, ela me disse que lá a galera é mais mente aberta. Na minha sala havia 12 alunos, 7 meninas, eu e outros quatro camponeses brutamontes, pessoas boas, legais, engraçadas, mas era pouco demais pra mim, eu mereço mais.
 Tomei um banho bem relaxante, desci as escadas, ninguém na sala, peguei uma toalha e fui pra piscina e encontrei mamãe. Tomando seu usual iorgute com granóla, bons dias, beijinhos, tentei fingir que nada havia acontecido, que tudo estava bem, seria um bom dia. Pulei na água. Lembrei que hoje os garotos viriam pra minha casa. Mamãe logo disse que Gean ligou, meu coração palpitou rigorosamente e ela percebeu minha aflição, ele havia dito que Pedro não iria porque haveria uma rodada do circuito de bike pela tarde mais iria deixá-lo lá antes da competição, melhor ainda, seriamos só eu e ele. Tudo que eu queria. Ai Meu Deus!
- Bob! O Marcondes disse que não existe tratamento aqui.
- E agora? – fiquei realmente tenso.
- Eu vou vender a chácara!
- Mas...
 Era difícil aceitar que a chácara não seria mais minha casa, que eu não poderia mais ficar horas na piscina congelando e vendo o céu cheio de nuvens baixas, até as janelas velhas brancas e cheia de gotas. Era o melhor a se fazer. Era o mais sensato, quem sabe um dia a gente pudesse voltar pra lá, pro nosso lar.
10h 28min.
- Mãe?
- Oi filho!
- Não tem problemas... Vamos ficar bem!
 A cozinha estava cheirando bem, parecia que a lasanha famosa da vovó estava sendo usada como perfume, mamãe olhava pela janela a colina por trás da chácara, nem me olhou.
- A gente vai ser muito feliz lá! Você vai ficar bem e a gente vai poder voltar.
  Ela chorou...
10h 32min.
Tia Sarah chegou trazendo uma infinidade de livros do vovô. Os que não deram tempo de deixar na biblioteca municipal, esses não pareciam empoeirados nem tão mofados quanto os outros, ficaram no escritório da mamãe, pelo menos até nossa mudança, a casa da vovó já estava com menos móveis, mas as maiorias das coisas haviam sido vendidas com a casa. Na verdade, a casa da vovó havia sido vendida há dois meses, quando ela foi morar com a gente pela doença, mas, o comprador só se mudaria pra ela em julho coisa que deu a vovó a chance de poder morrer em casa...
 Passei meu perfume favorito, botei minha blusa mais bonitinha, pus um chinelo e desci as escadas na expectativa de ver algo que mal parecia real mais era Gean. Ele estava de costas vendo a piscina:
- Oi!
- Ah... Oi carinha!
 Ele se aproximou até pensei em me afastar, mas... Sei lá. Gean pegou meu braço e me deu um beijo na bochecha. Dei um sorriso bem feliz, mais não cheguei a abrir minha boca, sempre achei um charme meu sorriso fechado, fazia meu sinal de beleza ficar bem evidente. Pude o sentir respirar no meu rosto, a boca dele era extremamente beijável, ele ficou me olhando um tempo até que eu...
- Eu...  Mamãe fez algo especial para o almoço especialmente pra você.
- Não precisava.
- Precisava sim, a gente quase te mata. E a perna?
- Dói um pouquinho, mas dá pra agüentar! – deu um sorriso extremamente fofinho, pude observar que as pernas dele eram bem malhadas, assim como seu braço e todo seu corpo perfeitamente justo.
- Vamos lá! – ele me beijou novamente e de repente pude ver minha tia nos olhando da porta.
- Querido, quem é esse?
 Gelei o que dizer?
- Oi! - Gean tomou a vez, e disse algo que me fez refletir sobre as intenções dele. – Sou o namorado dele.
- Hummmmmm...
 Pelo que eu vi. Ela ficou bem animada, eu estava com o cara mais Gato do mundo ao meu lado isso animaria qualquer um, menos os pais preconceituosos. Caso que não rolava comigo, eu sempre fui apoiado, e o Gean era uma realização pra todos nós.
- A comida ta na mesa!
Comemos falando sobre coisas bem diversas como bicicleta, moda e eu, Gean era um homem extremamente educado, sutil, inteligente e lindo. Meu Deus, muito lindo. Comia educadamente devagar com um cavalheiro, ele me olhava piscando e sorrindo, impressionantemente a comida não parecia nos dentes incrivelmente brancos e perfeitos. Chega, eu acho que vou ficar louco. Por que perdidamente, desesperadamente, loucamente apaixonado eu já estou. Carinha feliz.
- A comida do hotel é muito diferente dessa. – disse rindo pra mamãe.  – Vocês são ótimas cozinheiras. Minha mãe ia adorar isso aqui.
- Ela pode ir comer no nosso apartamento quando a gente for morar em Fortaleza.
- Vocês vão pra...
 Gean pareceu confuso, mas...
- Vai ser legal! Levo sim.
 Ele sorriu e voltou a comer.
14h00min.
 Não chovia mais fazia frio, mamãe havia subido pro quarto com Sarah há um tempinho, Gean estava sentado numa das cadeiras de estofado amarelo e branco que havia em frente à piscina:
- Você pode nadar.
- Não quero te deixar sozinho.
- Eu vou te ver.
- Não sei.
- Vai carinha, Bob. – ele deu um sorriso que acabou comigo.
- Ok.
 Eu estava eternamente envergonhado, mas, ele pediu né. Tirou o short o mais lentamente possível, nunca achei a minha bunda muito grande, tirei a camisa, o vi e estava olhando, ele estava sorrindo pra mim, pulei na água fria, já era meio rotineiro, o aquecedor estava demorando a funcionar, pus minha cabeça pra fora da água tentando respirar:
- Você gosta muito da água né?
- Hurrun.
 Eu nadava lentamente sobre a água congelante e parada...
- Vem aqui... Por favor.
 Sai da água checando se alguém nos via. Eu estava achando tudo aquilo muito sexy, na verdade estava me sentindo num filme pornô, graças a Deus toda essa excitação não se tornou material, se você me entende, acho que o nervosismo era demais tal façanha.
- Pode chegar mais perto.
- Eu vou te molhar.
 Gean estava sentado e eu estava quase me deitando sobre ele, ele afastou um pouco sentei bem do seu lado, de certa forma que nossos lábios ficavam quase juntos, tentei virar a cabeça, ele me cobriu com a toalha que eu havia deixado sobre a cadeira ao lado.
- Você está congelando.
 Dei um sorriso o devagar o bastante pra ele me beijar... Pude sentir o gosto doce da sua boca na minha, ele era o cara mais especial do mundo. Segurava minha mão firmemente, beijou minha testa molhada enquanto eu sentia seu cheiro adorável, provavelmente de um perfume caríssimo, no pescoço mais lindo e cheiroso do mundo, rodeado por um fininho cordão de ouro com um crucifixo no fim.
- Acho que você molhou meu gesso.
- Ah, desculpa.
- Não tem problema, você é meu namorado né?!
- Ninguém me pediu nada.
- Você quer namorar comigo Bob...
- Hael Castro.
- Bob Hael Castro você quer namorar comigo?
- É a primeira vez que a gente fica, não é um pouco cedo?
- Eu tou muito afim de você. Você vai pra Fortaleza, pelo que sua mãe disse, vamos morar mais ou menos perto. Vamos poder nos ver. Por que não?
Por que não? Porque minha mãe está doente, e eu não posso deixá-la por um cara.
- Desculpa Gean, mas eu não posso. – nem olhei pra ele, não quis ver aquele rosto maravilhoso triste.
- Desculpa, não quis ser apressadinho, mas acho que você é muito fofo.
 Eu fofo? Se olha no espelho, você é mais sexy que Robert Pattinson. Gean se levantou me beijou, e entrou em casa, pensei um pouco, perder um homem daquele era burrice, era o pior erro da minha vida. Venhamos e convenhamos, um cara lindo que aparece do nada querendo você não é tão comum, pelo menos não na minha cidade. me vesti, entrei em casa molhando o tapete vermelho, fui até a varanda, ele estava lá olhando a paisagem eternamente verde da serra.
- Não quero que fique com raiva de mim.
- Eu que errei carinha.
 Gean me abraçou realmente me senti muito melhor do que eu me sentia normalmente no mundo real.
- Eu aceito.
 Ele me sorriu, o beijei.
14h00min.
- Sarah, eu te chamei porque eu falei com o Marcondes.
- Sobre?
- Sobre o que o tratamento em Fortaleza vai me ajudar.
- E ai?
- Não vai mudar muita coisa. – mamãe disse isso quase sussurrando.
- Como assim, nada?
- Um pouco, mas não o bastante pra uma cura.
- Meu Deus. E ai?
- Eu... Estou morrendo.