1
de março
12h
Desde o primeiro ano o cara me atormenta
quando ele saiu da escola foi um alívio, pena que ele continua na cidade, coisa
que vai mudar já que o pai deles conseguiu um voltar a um antigo emprego que
tinha em Fortaleza, na verdade eles são de Recife, mas sempre viveram em
Fortaleza, até o pai vir pra Guaramiranga, pouco tempo depois eu os conheci,
Dani sempre foi muito doce, nesse ano ela mudou completamente, os belos cabelos
loiros grandes e torneados, deram lugar a um corte bem curtinho, que mal chegava
no queixo, eu a considerava a mais bonita da cidade, o irmão também, David,
tinha um rosto encantadoramente lindo, o que deixava sua maldade mais cruel,
ele tinha uma cara de ano que não acomodava tanta maldade.
Tia Sarah chegou umas duas horas da tarde,
mamãe a trouxe emocionada, vovó que não via a filha há uns três anos, não pode
segurar a emoção, todos precisavam de um pouco de emoção, ela trouxe um monte
de roupa, perfumes e um presente que me deixou entusiasmadíssimo, um iphone, novinho, cheirinho de novo, além
de um notebook vaio azul, era muito
lindo, eu abandonei o velho PC durão,
e com monitor gordo pra sempre agora.
Minha tia trabalhava com moda e isso era bom,
já que não tinha filhos todas às regalias sobrava pra mim, isso era muito
massa, roupas caras, tênis caros, tudo caro, coisas que ela ganhava de graça ou
comprava em suas viagens pelo país e pelo mundo. Além de usar roupas muito
perfeitas tia Sarah parecia uma modelo ainda, mesmo depois de abandonar a velha
profissão, cabelos loiros curtos, mas maiores que o da Dani, com algumas mechas
morenas a diferenciava mais ainda da mamãe, que com o tempo deu um engordada,
não muito, mas o necessário pra ganhar alguns números na balança.
Tomamos o café da tarde, fofocamos, mamãe lembrou-se
de Marcondes:
- Ele continua muito
charmoso. – disse mamãe morta de empolgada.
- Nem me fale, próximo
assunto gente...
Fiquei esperando Dani na varanda, nem um pouco
atrasada ela chegou com o irmão me olhando torto, nem dei bola, a beijei na
bochecha, subimos e fomos pro meu quarto, o que ela não sabe é que eu sou gay, por isso que ela continuava
gostando de mim, pelo menos foi o que uma amiga dela me disse, que amiga, e o
que aparenta.
Estudamos, ela me olhava às vezes esperando algo
mais que um sorrisinho meia boca, percorria minhas mão escrevendo, meus lábios enquanto
eu falava, a verdade é que aquilo me assustava, ela era linda, mas só isso, eu
não sentia nada por ela. Eu sinceramente nem sabia o que dizer.
Ficou tarde descemos, as escadas, passamos
pela sala, todos se despediram, saímos e pude ouvir como um ruído:
- Pena que o irmão é
um perturbado.
Chegamos a varanda, o som dos sapos e grilos, cri,
cri, cri, ela me olhava diferente:
- Dani... – quis quebrar
o gelo.
- Bob?
- Seu irmão me odeia
né. – porque eu sempre falo nele?
- Ele é difícil, não
é só com você.
Cri, cri, cri.
- Mas eu gosto de você.
- Eu sei. – disse sorrindo.
Estávamos sentados na varanda, ele se
aproximou e me beijou, Dani era corajosa, mas isso me assustava, pude ouvir o
som do carro se aproximar. Tentei alertar...
- Da...ni...
Ela não me ouviu. David parou o carro e saiu
dele descaradamente desesperado, começou a gritar:
- Solta ele...
- David.
Pegou Dani pelo braço firmemente e pôs no
carro. Ela ficou calada, minha mãe saiu de casa:
- O que tá
acontecendo.
- Ela me beijou. –
disse aterrorizado.
Davis acelerou e logo sumiu pela escuridão.
- Ele é um louco,
esse menino precisa aprender a viver.
Eu sempre achei que ele só precisava ser
ouvido, tinha pena dele, e as vezes eu gostava dele, nem sei porque. Eu sou um
burro, nem todo mundo pode mudar, porque nem todo mundo quer mudar.
2
de março
11h
Parece que o pesadelo nunca vai passar, eu
esperava mamãe na frente da escola, Dani apareceu.
- Oi Bob.
- Oi Dani.
Envergonhada Dani ficou na minha frente meio
calada.
- Desculpa por
ontem.
David chegou buzinando, saiu do carro, Dani
foi em sua direção.
- O que você tá falando com esse gayzinho heim? -
David estava descontrolado.
- Ele é meu amigo!
- Você ficou com ele, um viado sua idiota. Eu vi.
David chegou a mim, me deu um saco, caí.
- Seu idiota! - Dani tentou afastar David, mas ele
deu um tapa nela, eu levantei tentei algo.
- Eu to
sangrando. Socorro!
Dani estava sangrando pela cabeça. David me soltou.
Olhou pra irmã caída no chão, todos fomos pro hospital, minha mãe chegou
desesperada:
- Seu vagabundo, ridículo...
Ela gritava
com David que permaneceu sentado de cabeça baixa.
- Mãe passou.
- Não passou nada, Bob, chega.
-Mãe.
Aproximei-me
dele.
- Sim David, eu sou gay, muito orgulho disse, não tenho vergonha disso, não tenho vergonha
de quem eu sou você que precisa aprender alguma coisa aqui, você afasta todo
mundo de você cara, isso só e ruim pra você.
- Você não me conhece.
- Conheço o bastante pra saber que... – falei baixinho.
– Você gosta de mim.
- Você é louco.
- Não, você é louco.
Sai e ele
ficou lá, olhando pro nada, esperando Dani, que não falou mais com ele. Os pais
lhe deram um castigo, coisa boba, nada suficiente para parar a fúria do menino,
eu nem sabia se ele gostava de mim, talvez não, arrisquei, e deu certo.
25
de março
19h
46min.
Alguém chamou a policia, em poucos minutos
todos estávamos na delegacia da cidade, David e Gean de frente um pro outro com
os olhos roxos, foi até engraçada a cena. Mamãe chegou quase louca, tia Sarah
nem aparecer assim como Pedro, que provavelmente estavam transando em algum
pinto da cidade.
- O que tá acontecendo aqui delegado? - mamãe
parecia e estava histérica.
- Os dois jovens foram encontrados se matando pela
rua. - disse o delegado meio tenso, gaguejando, e com uma voz
impressionantemente engraçada. Quase ri.
- Eu vou matar vocês dois!
Gean tentava se acalmar. Abraçava-me, mas num
conseguia parar quieto. Eu tentava ver os machucados, mas não deu.
- Eu já liguei pro meu advogado, pode ir embora meu
bem.
- Eu não vou te deixar sozinho. - eu não vou
abandonar ele logo agora. - Mãe vai dormir eu fico aqui. O Pedro vai
me deixar mais tarde.
- Não vou deixar você nesse lugar assim. – disse mamãe.
- Meu advogado vai chegar pela manhã, pode ir.
- Não vai precisar rapaz! - disse o delegado
voltando da sala onde David estava com a família. - Eles não vão prestar
queixa.
Todos ficaram surpresos. Saímos. Entramos no
carro. Gean pôde dormir na minha casa.
- Eu acho que eu te amo carinha.
Gean me
surpreendeu enquanto eu limpava os ferimentos, sentei no colo dele, o beijei,
mamãe chegou:
- Gente eu trouxe esse remédio aqui. – disse meio envergonhada.
– Cicatriza melhor.
Deixou o
remédio sobre a mesa.
- Você pode morar comigo, a gente pode ficar junto
mesmo.
Levantei:
- Não posso.
- Por quê? Cê vai poder ver sua mãe sempre.
- Não vamos pra lá só pra morar G.
- Como assim?
- Minha mãe tá com câncer.
Ele não
soube o que dizer, eu comecei a chorar, Gean se levantou tirou o algodão ensangüentado
da minha mão e me abraçou:
- Eu vou te ajudar.
- Brigado.
Fomos dormir
juntos, nada de sexo, mas foi maravilhoso,é muito bom ficar agarradinho com
você gosta, foi uma das melhores noites da minha vida.
19h
Sarah foi deixar mamãe no sítio:
- Vou à casa da
mamãe pegar minha ultimas roupas esqueci oh.
- Deixa pra amanhã.
- Não...
No meio da estrada o carro para e alguém
entra, tia Sarah estaciona o carro atrás da igreja e os dói começam o amasso,
era Pedro, que depois de passar todo o jantar alisando as pernas de Sarah conseguiu
o que queria, nem tudo, aliás, Marcondes
que estava indo pra casa viu de longe o carro da ex namorada e se aproximou, ao
chegar perto e vê o que esta rolando fica doidinho.
- Sarah. – o médico
quase quebra a janela do carro enquanto bate nela em busca de respostas.
Sarah abaixa o vidro
lentamente, envergonhada:
- Marcondes o que
você tá fazendo aqui?
- Ah cara deixa de
encher o saco da moça. –diz Pedro que já estava com a camisinha na mão.
Sarah sai do carro.
- A gente não tem
nada Marco, não tenho explicações a te dar. – diz tremendo desde a mão a própria
voz.
- Eu te amo.
- Você mentiu pra
mim.
- Que?
- Você tem um filho
com a Sandrinha.
- Não.
- Chega de mentiras.
Minha tia entrou no carro, saiu:
- Vou te deixar em
casa Pedro.
- Eu posso te
acalmar.
- Não quero,
desculpa gostoso.
- Ok.
Ela volta pra casa, hora de chorar.
9h.
Havia
folhas na piscina. A velha árvore estava perdendo sua cor usual. Gean ficou me
olhando nadar por um tempo. O tempo nublado deixava o ar mais frio, Gean foi embora,
fiquei arrumando as malas, roupas, tênis, carregadores, notebook, iphone,
celular, filmes, CDs, jogos, TV, Xbox,
tudo. A casa havia se tornado um mar de caixas marrons, poucas coisas restavam,
Tia Sarah meio abatida pela noite anterior, estava toda inchada e cheia de olheiras.
Mamãe firme e forte arrumando a casa.
Os caminhos chegaram ao fim da tarde, mamãe se
despediu da casa cômodo por cômodo, a casa estava cinza e triste, assim como
mamãe que veio chorando, Gean me abraçou, me confortou, ele sabia me fazer
me sentir bem, , as janelas foram fechadas, as portas trancadas, Gean e Pedro saíram
na frente em direção ao hotel, mamãe entrou no carro, todos entramos:
- Vida nova. – tia Sarah
tentando animá-la.
- A gente volta.
- Não sei filho.
Gean decidiu conosco, Pedro só iria no
domingo, dia que iria acabar o campeonato, coisa que ele perdeu há muito tempo,
mas, ele trabalhava pra um dos patrocinadores, o que o prendia até o fim da competição.
O caminho era longo, mamãe só teria essa chance, seria o melhor a se fazer.