Seis
de março
9:
00
Dani olhava a chuva que molhava a sua janela
amarela naquela manhã triste:
- Dani?!
- Oi...
- Posso falar com
você?
- Claro!
David entrou e tentou achar um lugar pra
sentar, mas decidiu falar em pé mesmo, sua mãos tremiam:
- Eu fui falar com
ele.
- Ele quem?
- O Bob!
- Pra que? Já não
basta isso? – Dani afastou a franja com os dedos e mostrou a pequena cicatriz
sobre a sobrancelha. – Chega!
- Eu fui pedir
desculpas.
- Quê?
- Foi isso.
- Por quê?
- Eu não sou tão mal
assim, eu tenho sentimentos.
- Eu sei...
- Não você não sabe!
- Sobre o que?
- Sobre mim!
- Eu não to
entendendo nada David.
- Eu tenho um
segredo pra te contar.
27 de novembro
3: 15
- O Victor tá chegando vou pegar ele Ju, quer ir?
- Não. Vou ficar com a Alana.
- Ok.
- Nós precisamos conversar sobe uma coisa.
Ju ficou procurando
algo, desligou a TV, foi ao quarto
dos pais, um lugar escuro, escondido á um bom tempo, os pais dela estavam
morando na Itália, ela e Amanda, quase se mataram nesses últimos meses, mas a
mãe delas chegaria antes do natal e só iria pra lá próximo ano, levando as duas
pra morar. Amanda terminou com o namorado ao ir prá lá na primeira vez, desde
então solteira ficou uma chata, frustrada.
Ju se aproximou da
cama, abriu o guarda roupa dos pais, foi na ultima gaveta, na ultima caixa de
sapatos, pegou uma arma:
- Isso é perigoso cuidado Ju.
- Vai dar tudo certo Amanda.
As duas se olharam,
hora de pôr o plano em ação.
16
de abril
15:
43
Victor começou a
estudar muito pro vestibular de julho, ele passava cerca de sete horas
estudando por dia fora as aulas pela manhã, todo dia saia umas nove horas da
escola, às vezes mamãe dava carona pra ele, mas normalmente ele ficava até mais
tarde. Eu decidi procurar ajuda na escolha da profissão, fui á um psicólogo, mas
não adiantou muito, estava em duvida entre direito e arquitetura:
- Acho direito massa.
- Minha mãe fez.
- Bob... Não faça por isso.
- Eu gosto.
- Eu sempre quis medicina. Meu sono mesmo.
Queria ter um sonho
assim também, como as outras pessoas, Victor estava tão decidido, eu só
despertei essa força nele, o resto ele consegui sozinho. Realmente ele estava
se esforçando muito. Eu estava quase dormindo na sexta quando ele me chamou
pela sua janela. Me pediu pra conversar, fomos na piscina e ele me disse o que
ocorreu naquela tarde depois que eu sai da biblioteca, ele decidiu ir lanchar
quando alguém o chamou:
- Victor!
Era Jéssica, estava
aparentemente deprimida e tristonha:
- Oi.
- Eu posso falar um minutinho com você?
- Claro!
- Não quis entrar na biblioteca, nem pra te atrapalhar e
até porque nunca entrei ai.
- Pode falar.
- Eu vim pedir desculpas. Você foi o melhor namorado do
mundo e eu fui uma vadia.
- Foi mesmo.
- Eu errei, eu sei.
- Hum...
- Você me abandonou, todo mundo via isso. Você nunca
gostou de mim, eu nem sei por que a gente tava junto, eu fui humilhada também,
eu nunca fui amada por você e agora você anda mais tempo com aquele novatinho
gay do que comigo, isso não é legal, daqui a pouco vai tá todo mundo
comentando.
- Você é muito ridícula mesmo.
- Victor!
- Chega Jéssica! Acabou!
- Victor pêra ai! Nós somos o casal da escola.
- Não somos mais nada.
- Você é bom demais pra se perder.
- Mas você conseguiu. Me perdeu.
- Péra ai Victor, me escuta.
- Eu tento, mas eu fico com mais nojo de você.
- Eu te amo.
- Não, você não ama.
- Amo sim.
- Não tem problema, eu nunca te amei também.
- Victor.
- Você acha que eu fiz certo? – me olhando.
- Não sei! Acho que sim...
- Eu fiquei triste, mas eu não senti nada sabe?! Nada!
Aliás, eu nunca senti nada por ela, eu só estava me enganando... Ela disse que
eu iria encontrar alguém muito bom pra mim.
- Claro que vai. – eu fiquei meio sem jeito.
- Eu disse que já havia encontrado...
19: 02
- Dois minutos atrasado.
- Oi Bob. - Pedro chegou-me entregando um vinho de
presente.
- Brigado. Cadê a Sophie?
- Ela saiu pra jantar com um amigo dela!
- Hummmmm!
- Adoro.
- E vai ser só nós? Jantar romântico? – ri.
- Eu chamei uns amigos!
Ju e Victor estavam
vendo TV rindo de alguma bobagem que passava.
- Gente esse é o Pedro.
- Oi. – dois juntos.
- Vamos comer?
Sentamos-nos na
mesa e comemos a lasanha que mamãe havia deixado pro jantar, estava maravilhosa
foi à mesma que Gean comeu lá na chácara, mas dessa vez estávamos menos tensos,
e mais animados, o vinho era quase um álcool engarrafado:
- Vamos sair depois daqui? – perguntou Pedro.
- Pode ser! – respondeu Vi.
- Ótimo! – disse Ju piscando pra Pedro. – Não tem nada
melhor mesmo.
- Não sei gente!
- Vamos Bob!
- Você nunca saiu! Pelo amor de Deus!
Depois de muita
discussão decidimos ir pra night, Ju
foi se arrumar o que atrasou a todos. Saímos cerca de meia noite e meia, mas a
cidade acabara de acordar. Luzes, pessoas, pareciam que naquele momento eu
estava conhecendo uma nova Fortaleza, que nunca dormia e estava preparada pra
muitas emoções naquela noite.
Chegamos à boate e
ainda tava fechada, mas já tinha uma galera no aquecimento, ficamos lá, talvez
não fosse à melhor noite de nossas vidas, mas... Tudo começou quando Ju
encontrou Ruan na festa, isso até seria bom se ele não tivesse ficando com uma
menina:
- Ruan?
- Ju?
- Quem é essa? – perguntou Ju indignada.
- Não tá vendo que ele tá acompanhado não, biscate?! –
disse a loira safada com Ruan.
- O que? Cê tá louca sua vagabundinha de quinta!
- Meninas!
As duas começaram a
brigar, pedi ajuda de Pedro que estava quase transando com uma bela morena,
Victor que ficou o tempo todo comigo no bar nem se dispôs a terminar a
confusão. Os seguranças chegaram segurando as duas loucas e nos levando pra
fora da boate. Acabamos sendo expulsos da balada, que mico!
Ficamos esperando
um taxi na rua fria, a loira foi embora e Ruan ficou com a gente, Ju nem o
olhava mais, de repente começou a chorar:
- O que você tava fazendo?
- Nada Ju.
- Eu vi Ruan.
- Só tava curtindo.
- Não gostei dela!
- Eu também não, mas não tenho escolha.
- Como assim?
- A menina que eu gosto nem me nota.
- Quem é?
- Não importa.
- Como você sabe?
- Ju você nunca acredito nas minhas cantadas.
- Você é meu melhor amigo.
- Não Ju. Eu não quero mais ser só seu amigo.
Todos ficaram
olhando e esperando alguma frase mais ninguém disse nada, o taxi chegou, Ju
acabou com o silêncio enquanto entrava no carro:
- Eu sou uma burra mesmo.
- Eu te amo Julianne.
Fomos pra casa.
17 de abril
10: 03
- Dá pra creditar nisso? Eu sou muito burra, Bob. Você
devia ter feito algo!
- O que?
- Sei lá. Agora eu o perdi pra sempre.
Ju havia esquecido
a chave e decidiu dormir lá em casa assim como Pedro e Victor, todos dormiram
no meu quarto, eu e Ju na cama, Pedro no colchão e Vi na rede. Eu acordei cedo
pra urinar e Pedro já tinha ido embora, mamãe disse ele tinha ido pra casa,
pois tinha treino de bike, Victor
parecia estar morto, nem se mexia, estava sem blusa e isso era maravilhoso, que
barriga perfeita.
- Você não o perdeu.
- Perdi sim, eu sei como é. Quando ele terminou com a ex
ele passava horas falando dela comigo, ele a odeia, agora ele me odeia. Ele nem
fala mais com ela.
- O que você tá planejando?
- Não sei. Um dia ele é meu melhor amigo e no mesmo dia
ele tá trepando com uma prostituta loira e dizendo que me ama.
- Que tenso.
- Eu tô completamente louca.
Um pouco depois que
a Ju foi embora, Victor acordou e foi embora:
- Valeu Hael.
Ele saiu me
beijando na testa, eu passei uns 2 minutos tremendo depois disso.
18 de abril
13: 00
Mamãe decidiu me
levar pra comer fora no domingo, fomos há um restaurante self- service, sentamos num lugar afastado e perto das grandes
janelas de vidro de frente pra avenida, foi bom passar um tempo com ela, era
nosso primeiro passei juntos na nova cidade, mamãe continuava a mesma
conselheira, mas um pouco mais fraca e aparentemente mais magra, a dieta era
bem forte, seu prato havia mais coisas vivas que mortas, que aliás se
restringiam há um pedaço de peixe. Então, do nada, decidi contar a verdade, ela
ainda era minha melhor amiga, não podia esconder isso dela, Gean era um canalha
e ela tinha o direito de saber:
- O que você acha que eu devo fazer?
- Querido... Como você se sentiu quando sobe de tudo?
- Foi horrivelmente como socarem meu estômago e esmagá-lo
com as pedrinhas do quintal.
- É simples.
- Não entendei mãe...
- Você tem que imaginar que... Essa menina vai se casar
com um cara que vai destruir a vida dela.
- Hurrun.
- Conte filho! Antes que seja tarde demais. Antes, que
role o mesmo que rolou com você.
Eu ainda não sabia
o que fazer, ao voltarmos pra casa, acabei por descobrir:
- O Gean esteve aqui e deixou isso pra você. – disse o
porteiro... Pedro com um ramalhete de flores brancas na mão.
13: 00
Naquela noite o pai
de Victor não havia dormido em casa, Vi estava desolado, Ju e Amanda foram dá
uma ajuda moral e tentar arrumar o apartamento bagunçado e cheio de garrafas
secas:
- Eu não preciso de ajuda.
- Olha a merda. – disse Amanda revoltada varrendo a casa
escura.
- Você é muito cabeça dura. – Ju abrindo as janelas.
- Onde o velho se meteu?
- Você já ligou pros amigos dele?
- Ele tem isso? – ironicamente estragando o clima Amanda.
- Amanda! – Ju morta de vergonha.
- Já, ninguém sabe de nada.
- Onde ele costuma ir Vi?
- Qualquer barzinho com negras bem dotadas de bunda
sambando.
- Amanda! – Ju.
- Mas é mesmo. Ele sempre vai pro bar ali, perto da 13.
Todos entraram no
carro de Amanda, que estava revoltada e estressada; pra variar; foram em cerca
de sete bares até encontrarem o pai de Victor dormindo num banheiro sujo e
cheio de baratas e provavelmente ratos. Levou ele pra casa, Victor deu um bom
banho frio no pai bêbado, Amanda fez uma espécie de suco fortificante com
frutas cítricas e deram antes dele cair em “coma” alcoólica. Pela manhã Victor
e o pai tiveram uma discussão:
- Ou você para ou saio daqui. E você vai ficar assim,
sozinho. Chega pai!
Por fim, Mario, o
pai de Victor decidiu freqüentar um terapeuta e os Alcoólicos Anônimos, não era
tarde pra uma segunda chance, aliás, nunca é tarde pra tentar fazer a coisa
certa, em poucos dias Amanda conseguiu um emprego pra Mario numa grande oficina
de carros na cidade, seria um emprego pequeno, mas seria um bom re- começo. Ele
estava pronto e eu também:
- Então o que você decidiu Hael?
- Eu vou a casa dele!
- Sério?
- Sério, não quero outra pessoa sofrendo com ele, como eu
sofri.
- É a coisa certa Hael.
- Eu sei Victor, eu sei.
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