19 de março de 2011

nove

Seis de março
9: 00
 Dani olhava a chuva que molhava a sua janela amarela naquela manhã triste:
- Dani?!
- Oi...
- Posso falar com você?
- Claro!
 David entrou e tentou achar um lugar pra sentar, mas decidiu falar em pé mesmo, sua mãos tremiam:
- Eu fui falar com ele.
- Ele quem?
- O Bob!
- Pra que? Já não basta isso? – Dani afastou a franja com os dedos e mostrou a pequena cicatriz sobre a sobrancelha. – Chega!
- Eu fui pedir desculpas.
- Quê?
- Foi isso.
- Por quê?
- Eu não sou tão mal assim, eu tenho sentimentos.
- Eu sei...
- Não você não sabe!
- Sobre o que?
- Sobre mim!
- Eu não to entendendo nada David.
- Eu tenho um segredo pra te contar.
27 de novembro
3: 15
- O Victor tá chegando vou pegar ele Ju, quer ir?
- Não. Vou ficar com a Alana.
- Ok.
- Nós precisamos conversar sobe uma coisa.
 Ju ficou procurando algo, desligou a TV, foi ao quarto dos pais, um lugar escuro, escondido á um bom tempo, os pais dela estavam morando na Itália, ela e Amanda, quase se mataram nesses últimos meses, mas a mãe delas chegaria antes do natal e só iria pra lá próximo ano, levando as duas pra morar. Amanda terminou com o namorado ao ir prá lá na primeira vez, desde então solteira ficou uma chata, frustrada.
 Ju se aproximou da cama, abriu o guarda roupa dos pais, foi na ultima gaveta, na ultima caixa de sapatos, pegou uma arma:
- Isso é perigoso cuidado Ju.
- Vai dar tudo certo Amanda.
 As duas se olharam, hora de pôr o plano em ação.
16 de abril
15: 43
 Victor começou a estudar muito pro vestibular de julho, ele passava cerca de sete horas estudando por dia fora as aulas pela manhã, todo dia saia umas nove horas da escola, às vezes mamãe dava carona pra ele, mas normalmente ele ficava até mais tarde. Eu decidi procurar ajuda na escolha da profissão, fui á um psicólogo, mas não adiantou muito, estava em duvida entre direito e arquitetura:
- Acho direito massa.
- Minha mãe fez.
- Bob... Não faça por isso.
- Eu gosto.
- Eu sempre quis medicina. Meu sono mesmo.
 Queria ter um sonho assim também, como as outras pessoas, Victor estava tão decidido, eu só despertei essa força nele, o resto ele consegui sozinho. Realmente ele estava se esforçando muito. Eu estava quase dormindo na sexta quando ele me chamou pela sua janela. Me pediu pra conversar, fomos na piscina e ele me disse o que ocorreu naquela tarde depois que eu sai da biblioteca, ele decidiu ir lanchar quando alguém o chamou:
- Victor!
 Era Jéssica, estava aparentemente deprimida e tristonha:
- Oi.
- Eu posso falar um minutinho com você?
- Claro!
- Não quis entrar na biblioteca, nem pra te atrapalhar e até porque nunca entrei ai.
- Pode falar.
- Eu vim pedir desculpas. Você foi o melhor namorado do mundo e eu fui uma vadia.
- Foi mesmo.
- Eu errei, eu sei.
- Hum...
- Você me abandonou, todo mundo via isso. Você nunca gostou de mim, eu nem sei por que a gente tava junto, eu fui humilhada também, eu nunca fui amada por você e agora você anda mais tempo com aquele novatinho gay do que comigo, isso não é legal, daqui a pouco vai tá todo mundo comentando.
- Você é muito ridícula mesmo.
- Victor!
- Chega Jéssica! Acabou!
- Victor pêra ai! Nós somos o casal da escola.
- Não somos mais nada.
- Você é bom demais pra se perder.
- Mas você conseguiu. Me perdeu.
- Péra ai Victor, me escuta.
- Eu tento, mas eu fico com mais nojo de você.
- Eu te amo.
- Não, você não ama.
- Amo sim.
- Não tem problema, eu nunca te amei também.
- Victor.
- Você acha que eu fiz certo? – me olhando.
- Não sei! Acho que sim...
- Eu fiquei triste, mas eu não senti nada sabe?! Nada! Aliás, eu nunca senti nada por ela, eu só estava me enganando... Ela disse que eu iria encontrar alguém muito bom pra mim.
- Claro que vai. – eu fiquei meio sem jeito.
- Eu disse que já havia encontrado...
19: 02
- Dois minutos atrasado.
- Oi Bob. - Pedro chegou-me entregando um vinho de presente.
- Brigado. Cadê a Sophie?
- Ela saiu pra jantar com um amigo dela!
- Hummmmm!
- Adoro.
- E vai ser só nós? Jantar romântico? – ri.
- Eu chamei uns amigos!
 Ju e Victor estavam vendo TV rindo de alguma bobagem que passava.
- Gente esse é o Pedro.
- Oi. – dois juntos.
- Vamos comer?
 Sentamos-nos na mesa e comemos a lasanha que mamãe havia deixado pro jantar, estava maravilhosa foi à mesma que Gean comeu lá na chácara, mas dessa vez estávamos menos tensos, e mais animados, o vinho era quase um álcool engarrafado:
- Vamos sair depois daqui? – perguntou Pedro.
- Pode ser! – respondeu Vi.
- Ótimo! – disse Ju piscando pra Pedro. – Não tem nada melhor mesmo.
- Não sei gente!
- Vamos Bob!
- Você nunca saiu! Pelo amor de Deus!
 Depois de muita discussão decidimos ir pra night, Ju foi se arrumar o que atrasou a todos. Saímos cerca de meia noite e meia, mas a cidade acabara de acordar. Luzes, pessoas, pareciam que naquele momento eu estava conhecendo uma nova Fortaleza, que nunca dormia e estava preparada pra muitas emoções naquela noite.
 Chegamos à boate e ainda tava fechada, mas já tinha uma galera no aquecimento, ficamos lá, talvez não fosse à melhor noite de nossas vidas, mas... Tudo começou quando Ju encontrou Ruan na festa, isso até seria bom se ele não tivesse ficando com uma menina:
- Ruan?
- Ju?
- Quem é essa? – perguntou Ju indignada.
- Não tá vendo que ele tá acompanhado não, biscate?! – disse a loira safada com Ruan.
- O que? Cê tá louca sua vagabundinha de quinta!
- Meninas!
 As duas começaram a brigar, pedi ajuda de Pedro que estava quase transando com uma bela morena, Victor que ficou o tempo todo comigo no bar nem se dispôs a terminar a confusão. Os seguranças chegaram segurando as duas loucas e nos levando pra fora da boate. Acabamos sendo expulsos da balada, que mico!
 Ficamos esperando um taxi na rua fria, a loira foi embora e Ruan ficou com a gente, Ju nem o olhava mais, de repente começou a chorar:
- O que você tava fazendo?
- Nada Ju.
- Eu vi Ruan.
- Só tava curtindo.
- Não gostei dela!
- Eu também não, mas não tenho escolha.
- Como assim?
- A menina que eu gosto nem me nota.
- Quem é?
- Não importa.
- Como você sabe?
- Ju você nunca acredito nas minhas cantadas.
- Você é meu melhor amigo.
- Não Ju. Eu não quero mais ser só seu amigo.
 Todos ficaram olhando e esperando alguma frase mais ninguém disse nada, o taxi chegou, Ju acabou com o silêncio enquanto entrava no carro:
- Eu sou uma burra mesmo.
- Eu te amo Julianne.
 Fomos pra casa.
17 de abril
10: 03
- Dá pra creditar nisso? Eu sou muito burra, Bob. Você devia ter feito algo!
- O que?
- Sei lá. Agora eu o perdi pra sempre.
 Ju havia esquecido a chave e decidiu dormir lá em casa assim como Pedro e Victor, todos dormiram no meu quarto, eu e Ju na cama, Pedro no colchão e Vi na rede. Eu acordei cedo pra urinar e Pedro já tinha ido embora, mamãe disse ele tinha ido pra casa, pois tinha treino de bike, Victor parecia estar morto, nem se mexia, estava sem blusa e isso era maravilhoso, que barriga perfeita.
- Você não o perdeu.
- Perdi sim, eu sei como é. Quando ele terminou com a ex ele passava horas falando dela comigo, ele a odeia, agora ele me odeia. Ele nem fala mais com ela.
- O que você tá planejando?
- Não sei. Um dia ele é meu melhor amigo e no mesmo dia ele tá trepando com uma prostituta loira e dizendo que me ama.
- Que tenso.
- Eu tô completamente louca.
 Um pouco depois que a Ju foi embora, Victor acordou e foi embora:
- Valeu Hael.
 Ele saiu me beijando na testa, eu passei uns 2 minutos tremendo depois disso.
18 de abril
13: 00
 Mamãe decidiu me levar pra comer fora no domingo, fomos há um restaurante self- service, sentamos num lugar afastado e perto das grandes janelas de vidro de frente pra avenida, foi bom passar um tempo com ela, era nosso primeiro passei juntos na nova cidade, mamãe continuava a mesma conselheira, mas um pouco mais fraca e aparentemente mais magra, a dieta era bem forte, seu prato havia mais coisas vivas que mortas, que aliás se restringiam há um pedaço de peixe. Então, do nada, decidi contar a verdade, ela ainda era minha melhor amiga, não podia esconder isso dela, Gean era um canalha e ela tinha o direito de saber:
- O que você acha que eu devo fazer?
- Querido... Como você se sentiu quando sobe de tudo?
- Foi horrivelmente como socarem meu estômago e esmagá-lo com as pedrinhas do quintal.
- É simples.
- Não entendei mãe...
- Você tem que imaginar que... Essa menina vai se casar com um cara que vai destruir a vida dela.
- Hurrun.
- Conte filho! Antes que seja tarde demais. Antes, que role o mesmo que rolou com você.
 Eu ainda não sabia o que fazer, ao voltarmos pra casa, acabei por descobrir:
- O Gean esteve aqui e deixou isso pra você. – disse o porteiro... Pedro com um ramalhete de flores brancas na mão.
13: 00
 Naquela noite o pai de Victor não havia dormido em casa, Vi estava desolado, Ju e Amanda foram dá uma ajuda moral e tentar arrumar o apartamento bagunçado e cheio de garrafas secas:
- Eu não preciso de ajuda.
- Olha a merda. – disse Amanda revoltada varrendo a casa escura.
- Você é muito cabeça dura. – Ju abrindo as janelas.
- Onde o velho se meteu?
- Você já ligou pros amigos dele?
- Ele tem isso? – ironicamente estragando o clima Amanda.
- Amanda! – Ju morta de vergonha.
- Já, ninguém sabe de nada.
- Onde ele costuma ir Vi?
- Qualquer barzinho com negras bem dotadas de bunda sambando.
- Amanda! – Ju.
- Mas é mesmo. Ele sempre vai pro bar ali, perto da 13.
 Todos entraram no carro de Amanda, que estava revoltada e estressada; pra variar; foram em cerca de sete bares até encontrarem o pai de Victor dormindo num banheiro sujo e cheio de baratas e provavelmente ratos. Levou ele pra casa, Victor deu um bom banho frio no pai bêbado, Amanda fez uma espécie de suco fortificante com frutas cítricas e deram antes dele cair em “coma” alcoólica. Pela manhã Victor e o pai tiveram uma discussão:
- Ou você para ou saio daqui. E você vai ficar assim, sozinho. Chega pai!
 Por fim, Mario, o pai de Victor decidiu freqüentar um terapeuta e os Alcoólicos Anônimos, não era tarde pra uma segunda chance, aliás, nunca é tarde pra tentar fazer a coisa certa, em poucos dias Amanda conseguiu um emprego pra Mario numa grande oficina de carros na cidade, seria um emprego pequeno, mas seria um bom re- começo. Ele estava pronto e eu também:
- Então o que você decidiu Hael?
- Eu vou a casa dele!
- Sério?
- Sério, não quero outra pessoa sofrendo com ele, como eu sofri.
- É a coisa certa Hael.
- Eu sei Victor, eu sei.


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