27 de novembro
2h 28min.
Sai lentamente da sala, limpando as
lagrimas e o nariz levemente avermelhado, meu tênis estava sujo de lama e eu
parecia um mendigo, Alana estava lá, bem mais serena do que antes. Veio me abraçar,
eu não queria fazer aquilo tudo ficar pior, mas, eu me sentia ma em abraçá-la,
me sentia um vagabundo, ridículo,
totalmente estúpido, fui cortês, saí pelo corredor aparentemente mais
calmo, mas meu coração batia mais rápido do que nunca, eu senti um monte de
coisas ao mesmo tempo, doía muito isso não dava pra mudar.
- Eu vou pra casa. – eu disse quase rispidamente.
- Eu te levo!
- Não precisa!
- Claro que precisa! Eu quero te levar.
- Você vai pra casa, é melhor descansar!
- Não! Bob!
- Alana eu vou sozinho!
- Eu não posso deixar!
- Eu quero que você vá embora.
- Eu vou te levar pra casa! – ela já estava tensa, parecia
fraca, quase chorando, eu não queria fazê-la chorar, só queria afastá-la de
mim.
- Você não manda em mim.
- Bob eu sei...
- Alana, por favor...
- Por favor...
- Tá muito tarde, é perigoso você andar pelas ruas assim,
sozinho. Nem tem mais ônibus numa hora dessas.
- Eu me viro.
Sai, andando pelo estacionamento,
havia poucos carros, a lua estava baixa, a cidade morta, a leve chuva molhando
os carros parados como os corações dos homens e mulheres presos debaixo do pano
branco naquele cemitério branco. Alana tentou me seguir. Parou. Voltou, entrou
no carro, me seguiu por algumas ruas, me chamava baixinho...
- Eu não te odeio.
- Pois devia! – virei à esquina. Alana buzinou. Nem olhei
pra trás, estava indo de volta pra casa.
17
de março
O9h
59min.
De
repente o sol decidiu aparecer, eu peguei no sono umas cinco da manhã, estava
bem calmo, não chegava a estar sereno, mas... Meu quarto estava extremamente claro,
quentinho, mamãe tava com câncer. Era
inacreditável como tudo estava acontecendo tão rápido, me dava medo essa
cronologia desregrada que havia se tornado minha vida.
Pulei da cama, quase pisava no meu exemplar de
Para Sempre novinho que tia Sarah havia
trago quando chegou há um mês. Livrinho bom, pouco emoção,muita imaginação, já
li uma vez to lendo de novo só pra entender melhor, sempre tive problemas em
entender coisas. Será que o Gean é um imortal? Vampiro? Nem gosto tanto de Crepúsculo. Viagem. Enfim... Ele é bom
demais pra ser verdade, lindo, sexy, inteligente, rico, tudo. Por que ele se
interessaria por mim? Eu sou o que muitos acham de estranho perfeito.
Eu sou alto, tenho cabelos castanhos quase
negros, poucos por sinal, o que tento esconder com um moicano pequeno que me da
um visual bem bonitinho em comparação ao que eu era no passado. Eu não era
gordo, mas não era sarado como o Gean, acho que nadar na piscina todo dia me
ajudou nesse aspecto. Sempre tentei me vestir discretamente, sempre admirei os
discretos, isso os faz complexos e interessantes, pena que na cidade em que vivo
ser discreto é simplesmente não existir, Guaramiranga tem quatro mil habitantes,
isso nos faz um Vaticano nacional, a
cidade é cheia de turistas, mas, só turistas, coisas rápidas, ninguém fica.
Sempre sonhei em ir
pra Fortaleza, fugir daquele mundinho, Dani mora lá, ela me disse que lá a
galera é mais mente aberta. Na minha sala havia 12 alunos, 7 meninas, eu e
outros quatro camponeses brutamontes, pessoas boas, legais, engraçadas, mas era
pouco demais pra mim, eu mereço mais.
Tomei um banho bem
relaxante, desci as escadas, ninguém na sala, peguei uma toalha e fui pra
piscina e encontrei mamãe. Tomando seu usual iorgute com granóla, bons dias,
beijinhos, tentei fingir que nada havia acontecido, que tudo estava bem, seria
um bom dia. Pulei na água. Lembrei que hoje os garotos viriam pra minha casa.
Mamãe logo disse que Gean ligou, meu coração palpitou rigorosamente e ela
percebeu minha aflição, ele havia dito que Pedro não iria porque haveria uma
rodada do circuito de bike pela tarde mais iria deixá-lo lá antes da
competição, melhor ainda, seriamos só eu e ele. Tudo que eu queria. Ai Meu
Deus!
- Bob! O Marcondes disse que não existe tratamento aqui.
- E agora? – fiquei realmente tenso.
- Eu vou vender a chácara!
- Mas...
Era difícil aceitar
que a chácara não seria mais minha casa, que eu não poderia mais ficar horas na
piscina congelando e vendo o céu cheio de nuvens baixas, até as janelas velhas
brancas e cheia de gotas. Era o melhor a se fazer. Era o mais sensato, quem
sabe um dia a gente pudesse voltar pra lá, pro nosso lar.
10h
28min.
- Mãe?
- Oi filho!
- Não tem
problemas... Vamos ficar bem!
A cozinha estava cheirando bem, parecia que a
lasanha famosa da vovó estava sendo usada como perfume, mamãe olhava pela
janela a colina por trás da chácara, nem me olhou.
- A gente vai ser
muito feliz lá! Você vai ficar bem e a gente vai poder voltar.
Ela chorou...
10h
32min.
Tia Sarah chegou
trazendo uma infinidade de livros do vovô. Os que não deram tempo de deixar na
biblioteca municipal, esses não pareciam empoeirados nem tão mofados quanto os
outros, ficaram no escritório da mamãe, pelo menos até nossa mudança, a casa da
vovó já estava com menos móveis, mas as maiorias das coisas haviam sido
vendidas com a casa. Na verdade, a casa da vovó havia sido vendida há dois
meses, quando ela foi morar com a gente pela doença, mas, o comprador só se
mudaria pra ela em julho coisa que deu a vovó a chance de poder morrer em
casa...
Passei meu perfume favorito, botei minha blusa
mais bonitinha, pus um chinelo e desci as escadas na expectativa de ver algo
que mal parecia real mais era Gean. Ele estava de costas vendo a piscina:
- Oi!
- Ah... Oi carinha!
Ele se aproximou até pensei em me afastar,
mas... Sei lá. Gean pegou meu braço e me deu um beijo na bochecha. Dei um
sorriso bem feliz, mais não cheguei a abrir minha boca, sempre achei um charme
meu sorriso fechado, fazia meu sinal de beleza ficar bem evidente. Pude o
sentir respirar no meu rosto, a boca dele era extremamente beijável, ele ficou
me olhando um tempo até que eu...
- Eu... Mamãe fez algo especial para o almoço
especialmente pra você.
- Não precisava.
- Precisava sim, a
gente quase te mata. E a perna?
- Dói um pouquinho,
mas dá pra agüentar! – deu um sorriso extremamente fofinho, pude observar que
as pernas dele eram bem malhadas, assim como seu braço e todo seu corpo
perfeitamente justo.
- Vamos lá! – ele me
beijou novamente e de repente pude ver minha tia nos olhando da porta.
- Querido, quem é
esse?
Gelei o que dizer?
- Oi! - Gean tomou a
vez, e disse algo que me fez refletir sobre as intenções dele. – Sou o namorado
dele.
- Hummmmmm...
Pelo que eu vi. Ela ficou bem animada, eu
estava com o cara mais Gato do mundo ao meu lado isso animaria qualquer um,
menos os pais preconceituosos. Caso que não rolava comigo, eu sempre fui
apoiado, e o Gean era uma realização pra todos nós.
- A comida ta na
mesa!
Comemos falando
sobre coisas bem diversas como bicicleta, moda e eu, Gean era um homem
extremamente educado, sutil, inteligente e lindo. Meu Deus, muito lindo. Comia
educadamente devagar com um cavalheiro, ele me olhava piscando e sorrindo,
impressionantemente a comida não parecia nos dentes incrivelmente brancos e
perfeitos. Chega, eu acho que vou ficar louco. Por que perdidamente, desesperadamente,
loucamente apaixonado eu já estou. Carinha feliz.
- A comida do hotel
é muito diferente dessa. – disse rindo pra mamãe. – Vocês são ótimas cozinheiras. Minha mãe ia
adorar isso aqui.
- Ela pode ir comer
no nosso apartamento quando a gente for morar em Fortaleza.
- Vocês vão pra...
Gean pareceu confuso, mas...
- Vai ser legal!
Levo sim.
Ele sorriu e voltou a comer.
14h00min.
Não chovia mais fazia frio, mamãe havia subido
pro quarto com Sarah há um tempinho, Gean estava sentado numa das cadeiras de
estofado amarelo e branco que havia em frente à piscina:
- Você pode nadar.
- Não quero te
deixar sozinho.
- Eu vou te ver.
- Não sei.
- Vai carinha, Bob. –
ele deu um sorriso que acabou comigo.
- Ok.
Eu estava eternamente envergonhado, mas, ele
pediu né. Tirou o short o mais
lentamente possível, nunca achei a minha bunda muito grande, tirei a camisa, o
vi e estava olhando, ele estava sorrindo pra mim, pulei na água fria, já era
meio rotineiro, o aquecedor estava demorando a funcionar, pus minha cabeça pra
fora da água tentando respirar:
- Você gosta muito
da água né?
- Hurrun.
Eu nadava lentamente sobre a água congelante e
parada...
- Vem aqui... Por
favor.
Sai da água checando se alguém nos via. Eu
estava achando tudo aquilo muito sexy,
na verdade estava me sentindo num filme pornô, graças a Deus toda essa
excitação não se tornou material, se você me entende, acho que o nervosismo era
demais tal façanha.
- Pode chegar mais
perto.
- Eu vou te molhar.
Gean estava sentado e eu estava quase me
deitando sobre ele, ele afastou um pouco sentei bem do seu lado, de certa forma
que nossos lábios ficavam quase juntos, tentei virar a cabeça, ele me cobriu
com a toalha que eu havia deixado sobre a cadeira ao lado.
- Você está
congelando.
Dei um sorriso o devagar o bastante pra ele me
beijar... Pude sentir o gosto doce da sua boca na minha, ele era o cara mais
especial do mundo. Segurava minha mão firmemente, beijou minha testa molhada
enquanto eu sentia seu cheiro adorável, provavelmente de um perfume caríssimo,
no pescoço mais lindo e cheiroso do mundo, rodeado por um fininho cordão de
ouro com um crucifixo no fim.
- Acho que você
molhou meu gesso.
- Ah, desculpa.
- Não tem problema,
você é meu namorado né?!
- Ninguém me pediu
nada.
- Você quer namorar
comigo Bob...
- Hael Castro.
- Bob Hael Castro
você quer namorar comigo?
- É a primeira vez
que a gente fica, não é um pouco cedo?
- Eu tou muito afim
de você. Você vai pra Fortaleza, pelo que sua mãe disse, vamos morar mais ou
menos perto. Vamos poder nos ver. Por que não?
Por que não? Porque
minha mãe está doente, e eu não posso deixá-la por um cara.
- Desculpa Gean, mas
eu não posso. – nem olhei pra ele, não quis ver aquele rosto maravilhoso
triste.
- Desculpa, não quis
ser apressadinho, mas acho que você é muito fofo.
Eu fofo? Se olha no espelho, você é mais sexy
que Robert Pattinson. Gean se levantou
me beijou, e entrou em casa, pensei um pouco, perder um homem daquele era burrice, era o
pior erro da minha vida. Venhamos e convenhamos, um cara lindo que aparece do
nada querendo você não é tão comum, pelo menos não na minha cidade. me vesti, entrei em casa molhando o
tapete vermelho, fui até a varanda, ele estava lá olhando a paisagem
eternamente verde da serra.
- Não quero que fique com raiva de
mim.
- Eu que errei carinha.
Gean me abraçou realmente me senti muito
melhor do que eu me sentia normalmente no mundo real.
- Eu aceito.
Ele me sorriu, o beijei.
14h00min.
- Sarah, eu te chamei porque eu
falei com o Marcondes.
- Sobre?
- Sobre o que o
tratamento em Fortaleza vai me ajudar.
- E ai?
- Não vai mudar
muita coisa. – mamãe disse isso quase sussurrando.
- Como assim,
nada?
- Um pouco, mas
não o bastante pra uma cura.
- Meu Deus. E
ai?
- Eu... Estou
morrendo.
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